Dois artigos publicados aqui na MUST
Aliás, foram três, ao longo do último ano e meio: um sobre um EV da KIA, o EV6, titulado pela pergunta "É mesmo um KIA? De certeza?"; e outro artigo – publicado em duas partes, daí serem três ao todo – chamado "Está na hora do tudo elétrico?". Sobre o primeiro, a pergunta não tinha nada de pejorativo em relação à KIA, bem pelo contrário. Pegava numa ideia pré-concebida (logo, um preconceito) de que a marca coreana jogava as suas peças nos tabuleiros mais baixos do mercado, apostando em fabricar e vender automóveis de preço competitivo, que (et pour cause) eram de mecânica simples e pouco dada à crista da onda da tecnologia mais avançada da indústria automóvel. Nada mais errado, como o tempo veio a confirmar: a KIA sempre se pautou por fabricar carros competitivos, sim – em preço e em qualidade – e paulatinamente foi introduzindo nos seus modelos as mais recentes novidades da tecnologia. De resto, pertencendo a um gigante industrial, o Grupo Hyundai, a KIA acaba por beneficiar ela própria do R&D e de toda a panóplia tecnológica desse grupo. Do lado da tecnologia estamos conversados, como o test-drive ao EV6 veio a comprovar: um dos melhores eléctricos do mercado, dotado de tecnologia de fazer corar alguns dos concorrentes ditos premium (outra nomenclatura que é posta em causa) e que é vendido a um preço competitivo – paciência, concorrentes.
Os outros dois artigos versavam um tema comum que ainda mantém toda a atualidade: dada a atual oferta no mercado, já será boa altura para optar por um 100% elétrico? Na altura a resposta saldou-se por um "nim"; e atualmente a balança começa cada vez mais a pender para o lado do "sim". A oferta da indústria é cada vez mais abrangente, mais hi-tech e mais competitiva, e não faltará muito para que esse dia chegue.
Concretamente, o KIA Niro
Apresentado em 2016 e pensado para ser eletrificado no futuro próximo, o KIA Niro foi inicialmente lançado com motores de combustão e rapidamente introduziu versões híbridas. Atualmente oferece três tipos de motorização: mild hybrid e híbrido plug-in, baseadas no 1600 cm3 a gasolina com que a KIA equipa vários dos seus modelos, e o 100% elétrico que foi objeto deste teste. De referir ainda que a versão testada pertence à segunda geração do Niro, lançada em janeiro deste ano.
Já a versão 100% elétrica viu a luz do dia em 2018 (abril deste ano, para a versão EV) e nessa altura era conhecida na Europa como e-Niro. O Niro EV partilha a plataforma e o grupo propulsor com o "primo" Hyundai Kauai e apresenta uma bateria de 64.8 kWh, que alimenta um motor de 201 cavalos. É mais do que suficiente, já que permite acelerar dos 0 aos 100 km/h em 7.8 segundos e atingir uma velocidade máxima de 167 km/h. Tudo isto (dependendo do peso do pé direito, é evidente) resulta numa autonomia de 460 km segundo a norma WLTP. Não é um recordista, mas serve perfeitamente para a esmagadora maioria das utilizações. O peso é comedido q.b. (quanto maior a autonomia, maiores e mais pesadas as baterias) e cifra-se nos 1739 kg, para um comprimento total de 4.42 m, largura de 1.83 m e altura de 1,57 m.
Visto de fora e por dentro
À primeira vista, as linhas são mais dramáticas (modernas, sim, mas dramáticas) em relação à primeira geração. Uma frente agressiva – Cara de Tigre, chamaram-lhe os designers – e uma silhueta ainda e sempre de crossover (outra nomenclatura que serve para tudo e mais alguma coisa). A traseira é marcada pelas luzes LED em forma de boomerang, que também são visíveis de lado. Lá dentro, o amplo tablier, que parece envolver condutor e "pendura" inspira-se no do EV6 (podemos chamar-lhe o "irmão maior") e parece o posto de comando de uma nave espacial. A oferta de eletrónica embarcada é de muito bom nível, sempre foi assim na KIA, e a ergonomia e facilidade de operar tanto ‘gadget’ não apresentam falhas nem dificuldades de maior. De notar a aposta ambiental feita pelo construtor coreano, ao utilizar couro artificial e fibras recicladas, além de tintas de água isentas de benzenos, toluenos e xilenos: ou seja, amigas do ambiente.
Ao volante
Tendo o motor colocado sobre o eixo dianteiro, seria de esperar um comportamento típico de um tração à frente. E esse comportamento está lá, sim, sempre que o solicitamos (leia-se, sempre que o forçamos) em curvas mais apertadas. No entanto, o baixo centro de gravidade, com as baterias colocadas por baixo do piso dos ocupantes, ajuda a eliminar essa tendência e o Niro EV acaba por se comportar como um normal... EV, lá está. Relativamente ágil – para um EV, pronto – o Niro permite uma condução de um só pedal: doseando bem o esforço e aliviando com frequência a pressão sobre o acelerador, a regeneração de energia dá-se com facilidade e não é raro começar uma pequena viagem com "xis" quilómetros de autonomia e terminá-la com os mesmos "xis".
Preço
O KIA Niro EV pertence a um naipe de veículos elétricos que gradualmente vão aproximando o conceito de mobilidade elétrica a um cada vez maior número de utilizadores. Com um preço competitivo – a partir dos 44 mil euros – esse trunfo poderá acelerar a tendência. Além de que, coisa normal na KIA, há sempre uma campanha desconhecida que espera por si. E agora? Já estará na hora de optar por um 100% elétrico?