O planeta em 1972
Era bem diferente a realidade global nesse ano de 1972 e, por arrastamento, a de Portugal também. Com os olhos do mundo postos nos Jogos Olímpicos de Munique, e a um ano do choque petrolífero causado pela Guerra do Yom Kippur, o litro de gasolina normal custava 6$70 – sem correção económica daria qualquer coisa como 3,34 cêntimos, repita-se, CÊNTIMOS do euro. O panorama automóvel era ainda uma continuação dos anos 60, mas no horizonte começavam a perfilar-se novidades que viriam a marcar a indústria para sempre: por exemplo, o Renault 5, já aqui referido, assumia-se como uma pedrada no charco do mercado europeu. A produção mundial, essa, era dominada pelos gigantes americanos, General Motors à cabeça. Mas do país do Sol Nascente começava a despontar um construtor que vinha para ficar. E ficou mesmo. Outros fabricantes nipónicos, Honda incluída, viriam a segui-lo.
Civic, o modelo global
Até então, os diversos mercados automóveis (europeu, americano, japonês, mas também africano, sul-americano, asiático, australiano) eram realidades estanques e bastante diferenciadas entre si: um modelo automóvel europeu era para a Europa, um americano para a(s) América(s), um japonês para o Japão, e por aí adiante. As marcas nipónicas chegavam mesmo a mudar de nome ao tentarem internacionalizar-se: veja-se os casos da Nissan, que se (re)lançou como Datsun, ou da Toyota, que criou a marca "[L]uxury [EX]ports for the [US]" – sim, Lexus.
Já a Honda, desde sempre um enorme (o maior) fabricante mundial de motores de combustão, e uma marca de referência nas duas rodas, lançou-se para as quatro em inícios da década de 60. E seria no já referido 1972 que daria o salto para a criação de um dos primeiros "world cars", modelos que, mediante as mínimas alterações possíveis, seriam vendidos em todo o mundo, adaptando-se aos requisitos de cada um dos principais mercados. O Civic foi isso mesmo: sob a forma de um subcompacto – o que chamaríamos atualmente o segmento B – o (então) pequeno Civic era um tração à frente, de duas portas, prático, versátil e com uma impressionante economia de combustível. Os engenheiros da Honda adiantaram-se à História (pelo menos, ao conflito israelo-árabe) e ao que aí viria, concebendo um motor inovador, económico e, muito importante, respeitador das normas ambientais que os EUA tinham lançado em 1970: o Clean Air Act, uma lei que viria a estabelecer pela primeira vez limites às emissões nocivas.
Da primeira (1972) à 11ª geração (2021)
Ao fim dos primeiros quatro anos de produção, o Honda Civic atingia o primeiro milhão de unidades saídas da fábrica de Suzuka. E ao longo dos seus atuais 50 anos, o modelo foi-se adaptando às alterações do mercado automóvel e às transformações que a indústria foi sofrendo. Cresceu em tamanho, "aburguesou-se" um pouco (se é que o termo pode ser usado para um modelo que já nasceu urbano) e ajudou a cimentar a posição da marca no mercado internacional. Um dos mercados que se viria a revelar fulcral para a Honda é o americano. E a marca nipónica deve ao seu (já não tão) pequeno Civic a entrada e consolidação num país que, mesmo em recessão económica, não deixava de valer vários milhões de unidades vendidas.
Destaque para a 7ª geração do Civic, a do Milénio, que chegou ao mercado no ano 2000 e foi a primeira a oferecer tecnologia híbrida. Para um grande fabricante de motores de combustão, a junção destes com motores elétricos poderia ser algo complicado de gerir, mas a Honda saiu-se bem e navega agora a onda da mobilidade sustentável, com toda a sua gama automóvel atual – a 11ª – a ser eletrificada. A aposta do Sr. Soichiro Honda (1906-91), feita em 1972, rapidamente pagou frutos e revelou-se acertada. E não há fim à vista para este modelo, que há-de ter uma 12ª geração e provavelmente uma 13ª, 14ª...