Prazeres / Drive

É mesmo um KIA? De certeza?

É, pois. E, ainda por cima, é 100% elétrico. O novo KIA EV6 baseia-se numa também nova plataforma, concebida exclusivamente para veículos elétricos, e eleva a fasquia a um nível tal, que as marcas ditas ‘premium’ têm razões para começarem a ficar incomodadas.

Foto: KIA
29 de outubro de 2021 | Luís Merca
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Um ponto (prévio) de ordem à mesa

Para que não restem dúvidas nem mal-entendidos: a KIA é um fabricante que, erradamente na opinião do escriba, era conotado com uma imagem de marca, digamos, assim-assim. A qualidade nunca esteve em causa, nem poderia, mas arranjava-se sempre uma ‘desculpazeca’ qualquer para denegrir o construtor coreano: ora o design era de gosto duvidoso, ora faltava qualquer coisa no capot, fosse uma estrela ou uma hélice. Faltava-lhe ‘pedigree’, diziam os mais pedantes. Resolvida a questão do design para o mercado europeu com a decisão – acertadíssima – de recorrer a designers, lá está, europeus, restava a imagem de marca. E apesar do recém-alterado logótipo, a KIA continua a fazer levantar sobrolhos quando se aventura fora da sua área de conforto. Erradamente, de novo. Mas mesmo isso está claramente a mudar.

Foto: KIA

O que é o EV6?

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Trata-se do primeiro EV (veículo elétrico) da KIA baseado na nova plataforma E-GMP, que a marca coreana partilha com a sua "prima" Hyundai e que é também utilizada no Ioniq 5. Foi concebida em exclusivo para servir de base a veículos elétricos e liberta-os das concessões de se construir um EV a partir de uma arquitectura criada para motores de combustão: autonomia reduzida, carregamentos demorados, espaço interior pouco funcional, peso excessivo, fraca dinâmica e quase ausência de prazer de condução. Todos estes condicionalismos desapareceram com a nova plataforma, o que permitiu aos engenheiros da KIA incutir no novo modelo uma marcada personalidade desportiva, assegurando uma pronta resposta da direção, agilidade na estrada, performances elevadas e uma estabilidade que reforça o espírito, nas palavras da marca, "divertido de conduzir". Em termos técnicos (e necessariamente breves), a plataforma E-GMP suporta carregamentos de 400 e 800 volts, bidirecionais e V2L ("vehicle to load"), ou seja, o EV torna-se uma espécie de powerbank gigante, carregando ele próprio telemóveis, computadores, outros gadgets e, claro, outros veículos. Os tempos de carga dependem, como sempre, da fonte da eletricidade, mas poderão ser de apenas 18 minutos, num posto de carregamento de alto débito, para ir dos 10% aos 80% da carga da bateria.

Foto: KIA

A gama do EV6

Com lançamento oficial em Portugal a 30 de outubro, o KIA EV6 apresenta-se, para já, em duas versões: Air (com bateria de 58 kWh e 170 cv de potência) e GT-line (77.4 kWh e 229 cv), permitindo uma autonomia de, respetivamente, 578 km e 740 km – valores WLTP otimizados para condução em cidade. Os preços escalonam-se entre os € 43 950 (Air) e os € 49 950 (GT-line). Prevista apenas para o primeiro trimestre de 2023, uma terceira versão irá constituir o topo da gama EV6: chamada e-GT, terá dois motores (logo, tração integral) e uma potência total de 585 cv, oferecendo prestações de exceção: 260 km/h de velocidade máxima e uma aceleração dos 0 aos 100 em 3.5 segundos! A autonomia, compreensivelmente, ficar-se-á pelos 406 km, não há milagres.

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À primeira vista

Logo à partida, o EV6 tem melhor ar ao vivo do que em fotografia. De dimensões generosas (4.68 m de comprimento, por 1.88 m de largura e 1.55 m de altura), apresenta-se a meio caminho entre um crossover e um coupé, com uma linha dominante em cunha, que lhe dá um stance, mesmo parado, de que pode a qualquer momento saltar em frente. O design deve-se ao belga Luc Donckerwolke, o ex-responsável de estilo da Audi, Bentley, Lamborghini, Skoda e Seat – um cartão de visita de peso, construído no Grupo VW. Uma segunda leitura visual acaba por resumir da melhor forma o EV6: tem aspeto de marca premium. É isso mesmo, o problema de que a KIA sofria deixa de se colocar: não se assumindo como premium, o fabricante coreano produz modelos que ombreiam com os premium.

Foto: KIA

No interior

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Com uma distância entre eixos de 2.90 m – mais uma vez, cortesia da nova plataforma – o interior do EV6 salta à vista pelo espaço disponível. E pela qualidade de materiais e acabamentos. A este propósito, não existe couro natural no habitáculo, apenas sintético. E os bancos são revestidos a fibra resultante da reciclagem de garrafas de plástico – 111 delas, para ser exato – o que sublinha o posicionamento ecológico e de sustentabilidade da marca coreana. O nível de equipamento a bordo parece remeter-nos mais para uma nave espacial, tal é a profusão de eletrónica por tudo quanto é lugar. E função. À frente dos olhos do condutor, um ecrã táctil prolonga a visão do painel de instrumentos e é, ele também, um verdadeiro monitor de computador. Que tudo funcione bem e sem avarias é o que se deseja ao ver tanta eletrónica embarcada.

Foto: KIA

Ao volante

Ao escriba calhou em sorte a versão GT-line para um curto test-drive. Escolhido o modo de condução (Eco, Normal, Sport ou Snow, fiquemo-nos pelo Normal, embora o Eco deva ser mais que suficiente para uma utilização diária), caixa automática em D, acelerador, libertem-se os 229 cv aplicados às rodas traseiras. Aceleração de muito bom nível, de ficar colado às costas do banco mas sem que se sinta esse impulso como um pontapé, logo à partida impera o silêncio. Não só o do motor mas também, e principalmente, o de rolamento, prova de que a insonorização do habitáculo é de bom nível. Ao passar para o modo Sport, a afinação da suspensão revela-se durinha q.b., sem ser desconfortável, e o EV6 assume que é um tração atrás, com ligeir(íssim)as derivas da traseira, prontamente corrigidas pelos controlos eletrónicos de tração e trajetória. O i-pedal é um bom complemento aos quatro níveis de intensidade da regeneração, reguláveis através de patilhas no volante. O escriba deu por ele a conduzir o EV6 apenas com o pedal do acelerador, sem recorrer ao do travão, e "reduzindo" ou "passando" velocidades (é uma forma de expressão, claro) mediante as ditas patilhas.

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Tratou-se de um test-drive curto, muito curto, a necessitar de validação com outro(s) de maior quilometragem. Mas uma pergunta assalta-nos logo que saímos do KIA EV6: tendo em conta todas as variáveis da equação, será este um dos melhores EV atualmente no mercado?

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