Facto 1
A 28 de janeiro de 1972, a então Régie Nationale des Usines Renault, empresa pertencente ao Estado francês, lançava um modelo inteiramente novo: o Renault 5. Concebido ao longo de cinco anos pelo designer Michel Boué, nas suas horas vagas, foi mostrado à administração da marca do losango e esta de imediato colocou-o em linha para entrar em produção. A plataforma-base utilizada foi a do ‘best-seller’ Renault 4, mas seria a carroçaria desenhada por Boué a marcar toda a diferença. Linhas modernas – tipicamente anos 70 – e uma postura única e revolucionária para a época. Duas portas e dois volumes para um carro que se quer familiar? Vai ser um fracasso, diziam os seus detratores. Enganaram-se redondamente. Ao longo de 24 anos e duas gerações, foram produzidas 5.580.626 unidades, nada mal para um pequeno e simpático modelo que não deveria durar muito.
Facto 2
Um ano depois do lançamento do Fiat 127, o R5 viria a juntar-se ao modelo italiano e a disputar com ele um segmento – o dos utilitários familiares e versáteis, correspondente ao que se viria a tornar o segmento B – que se assumiria como o mais importante da indústria europeia durante os anos vindouros. Datsun 100A, Alfa Romeo Alfasud, Honda Civic, Audi 50, Ford Fiesta, Toyota Starlet, Peugeot 104 (não poderia faltar um modelo do arqui-rival construtor de Sochaux), todos eles viriam a entrar numa guerra comercial que animou as vendas de automóveis no Velho Continente – então como agora, mas principalmente então, os EUA e o Japão eram mercados à parte.
Facto 3
Um ano antes do choque petrolífero desencadeado por outra guerra, a do Yom Kippur, o Renault 5 conseguiu, ainda assim, vingar num mercado que não voltaria a ser o mesmo. Com o embargo dos países produtores de petróleo e a consequente escassez do "ouro negro", os preços escalaram até valores nunca vistos e, pela primeira vez, os fabricantes automóveis começaram a preocupar-se com o consumo de combustível. Não mais deixariam de olhar para o manómetro do depósito, numa tentativa de, com cada vez menos litros, conseguirem cada vez mais quilómetros.
Com os seus motores robustos e pouco rotativos, logo, pouco gulosos – inicialmente um 782 cm3 com 36 cavalos e um 956 cm3 de 47 – o R5 proporcionava consumos comedidos, o que lhe permitiu atravessar esses tempos de "vacas magras", como os classificou antes de 1974 um governante cá do burgo. Também o peso reduzido, entre os 730 e os 810 kg, consoante a versão, contribuiu para esse score de frugalidade. E por falar em medições, as dimensões exteriores extremamente compactas (3.52 m de comprimento, 1.53 m de largura e 1.41 m de altura) conferiam-lhe uma agilidade e uma facilidade de condução notáveis para a época e para o segmento. A distância entre eixos de 2.42 m (quase 70% do comprimento total) permitia uma habitabilidade interior que era mais uma forte razão para o seu sucesso.
Facto 4
"Une gueule sympa", dizia a inventiva publicidade francesa ao novo modelo. E sim, o R5 tinha mesmo uma cara simpática. Isto para quem não acredita em signos nem em numerologia, mas que acha que os carros têm mesmo "cara"... claro que têm! Têm expressão, têm olhar (os faróis são, obviamente, os olhos), são calmos ou agressivos, sérios ou alegres, e o Renault 5 era definitivamente alegre. Residiu na linguagem publicitária um dos mais importantes trunfos do modelo francês: uma abordagem ao mercado inovadora e simples, bem disposta, positiva, de resto na senda do que de melhor faziam – e ainda fazem – os criativos franceses.
Facto 5
Poderá o Renault 5 renascer? Numa bela jogada de marketing, ou talvez algo mais, a Renault lançou em 2021 um concept-car daqueles quase prontos para entrar na linha de produção (para bom entendedor...). Baseia-se na inconfundível silhueta do R5 e, a ser mesmo lançado – fala-se em 2023 – será 100% elétrico, o que junta ainda mais interesse aos olhos de uma potencial clientela que, entretanto, ficou em transe e com água na boca. Se vir a luz do dia, venderá como pãezinhos quentes – croissants, vá.
O R5 e o desporto
Nem as apelativas versões desportivas, e muito menos a competição automóvel pura e dura, podiam escapar à sedução do Renault 5: em versões civis ou transformados em máquinas de competição, o R5 Alpine, o R5 Turbo e o R5 GT Turbo deram cartas nos troços de terra e no asfalto dos circuitos, contribuindo para enriquecer a história do modelo.