Apresente-se o Audi e-tron GT quattro
É o terceiro Audi 100% elétrico e, dentro da família que é o Volkswagen Group, partilha com o "primo" Porsche Taycan a plataforma J1 e cerca de 40% dos seus componentes. Pronto, dirão alguns, mais um elétrico, mais um carrinho a pilhas, mais um... calma, este está longe de ser "mais um". Logo à partida, porque é um Audi, e os carros da marca de Ingolstadt não são propriamente "mais um"; depois, porque basta olhar para a sua silhueta (e para o seu tamanho) para tirar daí a ideia. O e-tron GT é grande, bastante comprido (4.99 m!) e também bastante largo (2.16 m, incluindo retrovisores), uma sensação de largura que parece ainda aumentada pelos 1.41 m de altura – sendo baixo e largo, aparece como maior. É um sedan de quatro portas a dar ares de Gran Turismo, mas conceda-se: dá bem a esses ares e a sigla GT fica-lhe bastante bem.
Apresentado ainda como concept car em finais de 2018 (Los Angeles) e logo a seguir em inícios de 2019 (Genebra), o e-tron GT recolheu à fábrica e ao gabinete de design, até que... veio a pandemia. Apesar dela, a Audi divulgou em finais de 2020 fotografias do que viria a ser o modelo final, que provou ser largamente inspirado nesse 'concept car'.
Do ponto de vista tecnológico...
... é um verdadeiro cocktail 'high-tech'. Sobre a já referida plataforma J1, desenvolvida pela Porsche para a casa-mãe VW – ou será casa-filha?, já que a família Porsche detém, de facto, o Grupo – o Audi e-tron GT monta dois motores, um em cada eixo, proporcionando tração integral, daí o "quattro" no nome. A potência total é de 476 cavalos (530 na função 'boost', não vá alguém achar que é pouco e necessitar de mais um bocadinho) e as performances são estratosféricas: 245 km/h de velocidade máxima (limitada, claro, o que seria sem limitador eletrónico?) e uma aceleração dos zero aos 100 nuns meros 4.1 segundos. Entre estes dois motores, ocupando parte da grande distância entre eixos (2.90 m), vive uma bateria de 93 kWh de capacidade total (84 kWh úteis) que permite até 488 km de autonomia. Convenhamos, não os atingirá à velocidade e ritmo de condução mencionados acima... mas ainda assim é uma notável autonomia.
Do lado do equipamento, este é aquele caso em que o referido ‘high-tech’ se mistura com a oferta de série e (ainda mais) com os opcionais. É absolutamente pletórico o nível de equipamento de série, chega a ser cansativo e entediante enumerar tudo o que a Audi oferece neste automóvel. Resuma-se assim: a eletrónica permite? O e-tron GT tem. Mas só para adensar a curiosidade: uma das críticas mais frequentes feitas aos EV é o silêncio, que se pode tornar perigoso para os peões em ambiente citadino, certo? Pois o e-tron GT emite um som para o interior e outro, separado, para o exterior, modulável pelo condutor através do ‘infotainment’ Audi select, e assim só um deficiente auditivo não ouvirá a sua aproximação.
Um automóvel para o condutor
Assuma-se o egoísmo: apesar de todos os restantes ocupantes gozarem de uma luxuosa vida a bordo, quer em termos de espaço, quer de conforto, quer do acima mencionado equipamento, o Audi e-tron GT é claramente um carro para ser pilotado, perdão, conduzido. E com uma grande dose de prazer de condução por parte do feliz condutor. Ele é o único senhor a bordo, evidentemente depois de Deus, Alá, Jeovah, e a marca alemã parece tê-lo usado como ‘template’ para fabricar à sua volta este EV – sim, porque continuamos a falar de um veículo 100% elétrico, não percamos isso de vista.
O comportamento em estrada é isento de qualquer crítica, a envergadura (e peso) permitem ao e-tron GT fazer o que quer que o dito condutor queira. A tração integral agarra o carro à estrada e este desloca-se como que sobre carris. O centro de gravidade é extremamente baixo, devido à colocação da pesada bateria, o que ajuda e muito a este comportamento impecável... seria preciso ser muito, mas mesmo muito mal intencionado (ou incompetente) para conseguir forçar este automóvel a mostrar alguma fraqueza, algum ponto fraco – o escriba/condutor tentou. Falhou.
Infelizmente, não para todos os condutores...
Não se trata sequer de um reverso da medalha (a qualidade paga-se), mas infelizmente o Audi e-tron GT quattro não se destina a todos os mercados nem a todas as bolsas. Com um preço-base a cifrar-se nos € 108.203, a unidade ensaiada pela MUST trazia mais de 23 mil euros de opcionais (o custo de muitos outros carros), e essa parcela fez subir o valor final para os € 131.853 – ainda continuamos a dizer que é "mais um" carro elétrico?