Prazeres / Artes

Livro. Georg Baselitz e o mundo de cabeça para baixo

Desde pinturas existenciais até esculturas rudemente esculpidas em madeira e "remixes" de obras anteriores, o trabalho deste artista alemão é sempre desafiador. Muitas das suas pinturas exploram a identidade alemã e o impacto da Segunda Guerra Mundial e do Nazismo. Ficou famoso por pintar "às avessas".

Foto: Getty Images
16 de abril de 2025 | Madalena Haderer

Georg Baselitz é um dos pintores e escultores alemães mais influentes do pós Segunda Guerra Mundial. Ficou conhecido pelo seu estilo expressivo e, sobretudo, pelos seus quadros pintados de cabeça para baixo. Uma estratégia audaciosamente simples, mas revolucionária, que tinha como objetivo desafiar a perceção do espectador, afastando-o da interpretação literal das imagens. Nasceu em 1938 e ainda está entre nós, mantendo uma produção artística significativa para alguém com a respeitável idade de 87 anos. A Taschen presta-lhe, agora, homenagem com esta monografia atualizada, que dá a conhecer toda a amplitude do seu trabalho com grande profundidade e detalhe, apresentando mais de 400 imagens que abrangem as suas obras desde 1960 até ao presente.

Livro
Livro "Georg Baselitz" da Taschen Foto: Taschen

Desde pinturas existenciais até esculturas rudemente esculpidas em madeira e "remixes" de obras anteriores – a arte de Georg Baselitz é sempre desafiadora. O seu estilo é muito marcado por pinceladas fortes, cores vibrantes e uma sensação de brutalidade, influenciado pelo expressionismo alemão. De resto, muitas das suas obras exploram a identidade alemã e o impacto da Segunda Guerra Mundial e do Nazismo. Baselitz foi muito influenciado por artistas como Picasso, os expressionistas alemães – em particular, Ernst Ludwig Kirchner, Emil Nolde, Otto Dix e Max Beckmann – e pelo Informalismo – movimento pictórico que abrange todas as tendências abstratas e gestuais desenvolvidas na Europa depois da Segunda Guerra Mundial. O seu trabalho teve um grande impacto na arte contemporânea, especialmente no neoexpressionismo dos anos 80.

Paisagens invertidas,
Paisagens invertidas, "Fingermalerei - Birken", 1972, Georg Baselitz Foto: Taschen

As suas obras são sempre carregadas de emoção, mas surpreendentemente diversas. Começou com figuras masculinas cruas e existenciais, que foram removidas da sua primeira exposição individual por serem consideradas indecentes, e com a série "Heróis", na qual retratou figuras mutiladas e expostas num cenário devastado. Ao longo dessa evolução, o espaço pictórico tornou-se cada vez mais fragmentado e, no final da década de 1960, Baselitz inverteu completamente o mundo: árvores, fábricas, águias e autorretratos nus foram pintados literalmente de cabeça para baixo.

Pinturas
Pinturas "Okönomie" e "Der Hirte", 1965, da série "Heróis" Foto: Taschen

"Der Wald auf dem Kopf" (A Floresta de Cabeça para Baixo), de 1969, foi a primeira pintura "às avessas". A partir daí, essa técnica tornou-se uma marca registada do seu trabalho. Essa escolha permitiu-lhe pintar com mais liberdade e explorar esquemas de cores conceptuais ou temas inusitados. Mais recentemente, começou a desenvolver os chamados "remixes", nos quais reinterpreta o seu próprio trabalho anterior num diálogo ao longo do tempo. Já mestre no desenho, na xilogravura e na gravura, a partir de 1980 Baselitz começou também a criar esculturas rudes esculpidas em madeira com machado e motosserra, passando a incluir o bronze nos seus materiais no final dos anos 2000.

Pinturas
Pinturas "Der Soldat" e "Tierstück II – Nicht von dieser Welt", 1965, Georg Baselitz Foto: Taschen

Esta edição da Taschen, chamada, simplesmente, Georg Baselitz, inclui textos que abordam o artista sob diferentes perspetivas. Richard Shiff, um conhecedor de longa data de Baselitz, escreve um perfil do artista com enfoque no seu humor negro; o crítico de arte Jonathan Jones fala dos seus anos formativos e da sua evolução como pintor; já a historiadora de arte Eva Mongi-Vollmer analisa o seu trabalho escultórico desde o seu sucesso controverso na Bienal de Veneza de 1980; Carla Schulz-Hoffmann estuda as suas estratégias artísticas; o autor e realizador Alexander Kluge escreve uma coleção de vinhetas literárias que relacionam o seu uso do mito e da história; e, por último, a transcrição de uma conversa em estúdio com o jornalista de arte Cornelius Tittel. Declarações do próprio artista e uma biografia ilustrada completam esta exploração sem precedentes da obra de Georg Baselitz.

Esculturas, Georg Baselitz
Esculturas, Georg Baselitz Foto: Taschen

De resto, quem quiser e tiver oportunidade poderá, até 4 de maio, visitar as suas obras no Munchmuseet, em Oslo, na Noruega, onde está patente a exposição "Feet First", com mais de 80 pinturas, desenhos e esculturas desde o início dos anos 1960 até aos dias de hoje. Para quem não conseguir ir a Oslo, resta este completíssimo volume que já foi publicado como edição de colecionador, assinada e – por definição – limitada, mas regressa agora de forma ilimitada. 

Custa 75 euros, tem 616 páginas e está disponível no site da Taschen.

Saiba mais Artes, Livros, Taschen, Georg Baselitz, Artista, Pintura, Escultura, Expressionismo alemão, Neoexpressionismo, Informalismo
Relacionadas

Irreversible, uma exposição-manifesto de Bordalo II

O artista português regressa à capital francesa para inaugurar mais uma exposição-manifesto na qual, como é habitual, transforma resíduos plásticos em arte, numa reflexão sobre os consumos excessivos da sociedade e a poluição.

Livro. História de 225 anos de auto-retratos em 60 obras

"Self Portraits: From 1800 to the Present" é uma das mais recentes edições da Assouline. Um verdadeiro livro de mesa de café, este objeto de coleção promete horas bem passadas a analisar mais de 60 auto-retratos de artistas como Monet, Picasso, Félix Vallotton, Gustave Caillebotte, entre outros.

Mais Lidas
Artes David Hockney. A maior exposição de sempre

Com 87 anos, o famoso artista plástico britânico esteve pessoalmente envolvido na escolha das cerca de 400 obras e na forma como foram dispostas. Uma mostra histórica para ver na Fundação Louis Vuitton, em Paris, até 31 de agosto.

Artes Livro. Os 100 momentos marcantes da Fórmula 1

A nova obra da Assouline — "Fórmula 1: The Impossible Collection" — celebra 70 anos de F1 com os momentos mais trágicos, mas também os mais emocionantes, do automobilismo. São eles que hoje constroem a história de um dos desportos mais vistos do mundo.

Artes Retrospetiva de artista francês JR na Galeria Underdogs

JR ainda é um jovem artista, com 43 anos acabados de fazer. Ainda assim, retrospetiva é mesmo o nome indicado para a sua exposição "Through My Window", na qual somos convidados a conhecer as suas instalações de grande escala através de 36 litografias – que estão à venda.