Durante 10 anos, Mário Cruz fotografou os que mais sofrem com o flagelo da crise da habitação. Pessoas que têm de escolher entre alimentar os filhos, ou a si próprias, e ter uma casa digna. Muitas, com empregos instáveis para além de mal pagos, não conseguem sequer ter a documentação e garantias necessárias para fazerem um contrato de arrendamento. São, na sua maioria, pessoas com um trabalho a tempo inteiro e que, apesar disso, não conseguem sair da pobreza. Deste projeto denominado ROOF nasce agora um livro e uma exposição de fotografia que mostra a vida destes habitantes da cidade de Lisboa. "Estas pessoas sobrevivem das sobras do que outros descartam e ocupam edifícios abandonados, fábricas entaipadas, escolas devolutas ou contentores enferrujados, num esforço de os transformarem em algo que se assemelha a um lar", pode ler-se no comunicado sobre o trabalho do fotógrafo.
Roof é, ao mesmo tempo, uma homenagem a estas pessoas, e um soco no estômago para quem não imagina a miséria honrada que se esconde por detrás de quatro paredes tortas, húmidas, descascadas e entaipadas. E, de acordo com o comunicado, o projeto "pretende alertar e consciencializar para um problema escondido e silencioso, que ganha escala há várias décadas. A crise da habitação não é de agora, mas atingiu um ponto de ruptura. No ano em que se celebra o 50.º aniversário do 25 de Abril, que consagrou o direito à habitação, impõe-se olhar para o que está por cumprir."
A exposição, com entrada livre, pode ser visitada até dia 9 de Junho, no Antigo Recolhimento das Merceeiras, em Lisboa. E o livro, limitado a uma edição de 500 exemplares, é composto por quatro tomos acondicionados dentro de uma caixa selada e está disponível para pré-reserva por 40€ no site do projecto.
ROOF foi publicado no jornal The New York Times e distinguido com o prémio Magnum 30 Under 30, pela agência Magnum Photos. Este é o terceiro livro de Mário Cruz, que foi, durante vários anos, fotojornalista da agência Lusa e já ganhou diversos prémios com as suas fotografias, entre eles, o lugar na categoria de Assuntos Contemporâneos do World Press Photo, em 2016.