Com recurso a bonecos Playmobil, o artista plástico brasileiro Heberth Sobral aterrou em Lisboa com a instalação Tempo na Boutique dos Relógios Plus, na Avenida da Liberdade. A exposição faz parte do projeto Love City – que tem o seu arranque oficial em Portugal –, idealizado e com a curadoria da consultora cultural Marina Ostrowski. A exposição de arte itinerante, passará depois por outras cidades da Europa, pelos Estados Unidos da América e pela Ásia, sob cinco diferentes temáticas, que refletem sobre as cidades eternas onde vivemos, através dos olhos de Sobral.
"Eu nunca pensei em trabalhar com o boneco, foi uma coisa ao acaso, eu não procurei isso", contou-nos Heberth, que trabalha ainda como assistente do artista plástico brasileiro Vik Muniz. "Éramos seis netos e eu não entendia porquê a minha avó dava esses bonecos só para mim", contou tentando explicar-nos a sua relação com o brinquedo e o papel da sua avó materna Ester nesta sua coleção, que incluía Jiraiya, He-Man, G.I. Joe e o "tal do Playmobil, que até então eu não conhecia."
"Os desenhos da nossa época tinham os traços mais adultos – hoje os traços são mais infantis – mas o Playmobil falava com a criança", detalhou o brasileiro sobre o momento em que se apaixonou por estes bonecos. "Ele não tem nada, mas tem tudo. Não tem orelha, mas você vê, não tem nariz mas você vê. Ele tem dois pinguinhos e uma meia-lua, que é como a gente desenhava", ri-se Heberth e conclui: "Ele é completamente Bauhaus, é um design boneco."
Mas na infância o Playmobil permaneceu "apenas" um boneco. Foi durante o estágio que cumpria após as aulas na faculdade – e depois de ver o filme Tropa de Elite (2007) – que o brinquedo transformou se em arte. "Quem mora em Comunidade não gostou do filme, quem mora em condomínio gostou. Aí eu percebi que quando a violência é alheia vira entretenimento, quando é com você não", resume. A partir deste insight decidiu fazer um stop motion, a técnica de animação quadro-a-quadro. "Eu tinha uma ambulância do Playmobil, pintei de preto e fiz o caveirão [nome popular dado ao carro blindado usado pela Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro em incursões nas áreas de risco]. Nisso eu já estava trabalhando com o Vik [Muniz]. Chegou o Jaime Portas Vilaseca, que na época estava abrindo a sua galeria, e pediu para ver o meu trabalho", recorda com um sorriso no rosto. Sobral até mostrou as pinturas, mas Portas Vilaseca viu potencial na "brincadeira" e sugeriu: "Se eu encomendar nove fotos, você faz?"
Passaram-se anos e os trabalhos de Heberth Sobral tomam agora conta, não só das montras, mas um pouco de todo a loja lisboeta, com o culminar no primeiro piso (não deixe de reparar nos azulejos com os traços do Playmobil, uma referência portuguesa, com certeza). Tem até ao fim do mês para descobrir esta abordagem provocadora e bem-humorada a temas como amor, alegria, tempo, humanidade e cidade. E passar a ver os bonecos Playmobil com outros olhos.
O quê? Tempo, de Heberth Sobral. Onde? Na Boutique dos Relógios Plus – Avenida da Liberdade 194C, Lisboa. Quando? Todos os dias das 10h às 20h até 31 de janeiro de 2020.