No último edifício da Rua da Madalena, em Lisboa, frente à Igreja de Santa Maria Madalena, num primeiro andar, encontramos um assombroso estúdio cujos janelões deixam entrar a luz de Lisboa. Estamos no atelier de Emmanuel Babled, designer francês de mobiliário e objetos na área há 30 anos, que no seu trabalho celebra técnicas tradicionais e honra as origens dos materiais. Depois de 5 anos a viver também em Amesterdão, Emmanuel mudou-se para Lisboa no início de 2016, onde vive e trabalha atualmente neste atelier, o Babled Design.
No piso térreo encontramos a sua galeria, Prime Matter, que acaba de inaugurar a sua segunda exposição: Di Vetro, que parte do trabalho de dois artistas com recurso a vidro, material histórico cuja primeira produção humana remonta a 4000 anos, na Mesopotâmia.
Conversamos alegremente com Marijke De Cock, artista manual a viver e a trabalhar em Antuérpia, onde estudou Moda na Academia Real de Belas Artes, e onde trabalha como designer na equipa de Dries Van Noten, onde se especializou, entre outras coisas, na criação e conceção de ornamentos e joias com níveis de detalhe rigorosos. Do vestuário, Marijke saltou para as obras de arte, e resgatou uma técnica antiga e tradicional, morosa, vinda da Índia, recorrendo a contas de vidro minúsculas, que são costuradas em tecidos – as formas, pensa-as ela, transformando-as depois em colagens, com auxílio do marido, também artista.
"É uma técnica de partilha, feita por homens, cantada, é um momento cultural, a celebração da tradição". Há sempre três ou quatro pessoas em torno da confecção destas peças, conta-nos. Todas elas são numeradas – "dar-lhes um nome era dizer como é que as pessoas haviam de olhar para elas, de as interpretar" – e em azul Saint-Laurent, profundo, com algumas em dourado. As formas "chegam-me às vezes à beira da piscina, com as crianças, são uma coisa muito natural, de instinto."
Andrea Zillio, que também exibe nesta exposição, é um mestre vidreiro que parece ter nascido para trabalhar o vidro. Nascido em Veneza e criado na ilha do fabrico tradicional de vidro, Murano, Andrea esteve primeiro no restauro de mobiliário antigo, até que começou a trabalhar na Anfora – um forno de vidro familiar, dirigido por Renzo Ferro na ilha de Serenella – e rapidamente elevou a fasquia da mestria do vidro, recorrendo à técnica de sopro (reticello, o incalmo, o zanfirico e o sommerso são algumas técnicas que domina).
Nesta exposição tem peças distintas, ornamentadas e cheias de detalhes, como candelabros feitos com minúcia e coloridos. Falamos por fim das peças de Emmanuel Babled, o centro de tudo e à volta das quais orbitam as dos artistas convidados, que criou uma série de "bolas" de vidro, ou potes ovais, com acabamentos exteriores a adornar cada uma delas, em cores como o azul, o preto, o amarelo e o verde, jum jogo de luzes e cores que será tudo menos acidental.
"Di Vetro", com curadoria de Marta Alvarez, está patente de 14 de setembro a 17 novembro.