Não é segredo para ninguém que séries de televisão que têm a medicina como tema central – como House, Anatomia de Grey, ou Serviço de Urgência – têm médicos como consultores para que os atores não façam nem digam coisas disparatadas. Também séries ou filmes passados na barra do tribunal precisam de ter advogados que ajudem a escrever o guião. Na prática, os consultores só não fazem falta se o argumentista fizer aquilo que frequentemente se recomenda a um escritor – que escreva sobre aquilo que sabe. Mas isso é muito redutor. Para além de que há temas que serão sempre sucesso garantido, como é o caso de filmes sobre guerras ou dramas militares – quem poderá alguma vez esquecer o prodigioso papel de Jack Nicholson em Uma Questão de Honra? Tudo isto para dizer que, nos Estados Unidos, os grandes estúdios de cinema contam com um aliado improvável para garantir que, no que toca a questões militares, bate tudo certo: o Departamento de Defesa. Sim, isso mesmo, estamos a falar do Pentágono.
De acordo o jornal britânico The Economist, é frequente o Departamento de Defesa emprestar armas e expertise aos estúdios de cinema, com a condição de que tenham uma palavra a dizer sobre o guião – não há almoços grátis. O jornal diz mesmo que o Departamento de Defesa colabora, em média, com cerca de 140 filmes e séries por ano – muitos são séries documentais, mas há sempre alguns blockbusters à mistura. Principalmente, se o Pentágono apreciar a mensagem do filme. Isto porque, uma das principais motivações para dar uma "ajudinha" é o lado propagandista do filme, ou seja, a possibilidade de, depois de verem o filme, uma onda de jovens decida alistar-se no Exército, na Marinha ou na Força Aérea – quem é que não tem vontade de ser piloto de caças depois de ver o filme Top Gun ou a sua sequela Top Gun: Maverick?
Com o apoio do Departamento de Defesa, é possível alugar um F/A-18E/F Super Hornet, o avião pilotado por Tom Cruise na sequela do Top Gun, por 23 mil dólares por hora – uma pechincha, de acordo com The Economist, já que comprar um custaria 56 milhões. Além disso, as cenas filmadas num verdadeiro porta-aviões são mais realistas do que se se recorrer a um fundo verde. E a produção pode poupar muito dinheiro se, em vez de construir um cenário de uma base militar poder filmar numa base militar que já existe.
Há, claro, uma grande limitação e é fácil imaginar qual é. Para contarem com a ajuda do Pentágono, os filmes não podem transmitir uma imagem do Exército que seja negativa. Estúdios que queiram contar histórias sobre corrupção, incompetência e falta de humanidade terão de abrir os cordões à bolsa ou procurar apoio noutro sítio. Felizmente, começam a surgir novas opções. The Economist garante que países como a França, a Jordânia e os Emirados Árabes Unidos oferecem equipamento militar mais barato aos cineastas e impõem menos condições.
E se alguém precisar de um chaimite ou outro, Portugal também deve conseguir ajudar.