Em tempos de constante reinvenção também - e sobretudo - para o setor cultural, houve quem arriscasse novos formatos e desse vida a ideias que estavam à espera de um propósito para acontecer. Foi o caso dos Capitão Fausto, que aproveitaram uma semana passada em Melides, em setembro, para filmar o seu primeiro cineconcerto, realizado por Ricardo Oliveira e em exibição esta sexta-feira, 20 de novembro. Com ele, chegam novas e exclusivas versões, três gravadas ao vivo, ao mesmo tempo que se revisita o já emblemático repertório que tão bem conhecemos da banda portuguesa. Tomás Wallenstein fala à MUST sobre a génese deste "Sol Posto", e dos tempos atípicos que vivemos. O filme-concerto tem exibição única a 20 de novembro, às 20h, nas várias salas de cinema espalhadas pelo país.
De onde nasce a ideia de fazer um filme-concerto? Sentiram necessidade de se reinventar num momento como o que vivemos, de fazer nascer algo diferente no meio desta pandemia?
Exatamente. Na impossibilidade de fazer concertos ou de conseguirmos ter condições de chegar a todo o país esta ideia surge justamente para nos reinventarmos ou de reagirmos ao momento que atravessamos. Não é uma salvação ou uma fórmula vencedora, mas é uma resposta criativa para tentar suavizar um problema. Pelo caminho, abriu-nos várias portas e revelou-se uma experiência muito produtiva. Com o filme concerto conseguimos, ainda de que forma diferente, estar reunidos com quem nos segue e gosta da nossa música de uma forma menos comum e que foge às limitações dos live streamings.
Sol Posto. Veio primeiro o nome e depois o conceito, ou vice-versa?
O nome veio depois! E surge de forma muito natural, pois ao longo da residência artística em Melides fomos procurando uma narrativa para o concerto, e o desafio acabou a ser a constante procura das condições ideais para gravar e filmar acompanhando os vários momentos do sol e a sua ausência. Acabou por ficar muito ligado à ideia da passagem do tempo, à inevitável erosão das coisas, e à ideia de um isolamento. Não que tenha sido esta a ideia original, foi mutável e simbiótica à medida que fomos progredindo na narrativa.
Foi gravado numa semana em Melides. O que é que a experiência vos trouxe como banda?
Foi uma excelente oportunidade para revisitar a nossa discografia, de fazer justiça a várias canções que não entram nos nossos concertos (também elas em isolamento) e acima de tudo foi mais uma experiência coletiva de trabalho e entreajuda, desta vez de nos organizarmos em equipas e semiequipas para conseguirmos produzir, gravar organizar e lançar uma longa em apenas 3 meses. Aprendemos muito mais sobre o processo, sobre outras áreas criativas, e em certa medida sobre nós próprios. E numa altura em que tudo estava incerto foi uma excelente resposta de toda a equipa! Estamos muito gratos e felizes com toda esta experiência.
Que inéditos podemos esperar deste filme-concerto? E onde poderemos vê-lo?
Tem inéditos e versões bem diferentes das habituais. Vamos deixar em segredo para os leitores quererem descobrir por eles! Está em 70 salas de cinema por todo o país. Em capitaofausto.pt está a lista com todas.
Que "microformas" temos de apoiar o setor da música, além das óbias, neste momento tão trémulo para os artistas?
A compra de merchandise, dos discos, dos vinis, o acompanhar dos artistas e acima de tudo, continuar a ouvir e a assistir. Temos tido uma capacidade de reinvenção e todo o sector tem provado ser maleável e adaptável, mas há sempre limites - precisaremos sempre uns dos outros e o melhor é estarmos juntos, sempre que possível.
É também importante que haja um debate de comunidade, cívico, sobre a importância da cultura nas alturas em que tudo está negro, e que a sua função é não só dar brilho ao presente e ao futuro como justamente ajudar a ultrapassar e a crescer com tudo isto. Há na cultura respostas civilizacionais aos problemas que estamos a ter, e é importante defender o facto de ela ser segura e essencial numa altura em que tudo está tremido.