Prazeres / Artes

Bansky volta a "atacar" as ruas de Londres

Quando os protestos da extrema-direita se alastraram por todo o Reino Unido, o mais famoso graffiter do mundo decidiu também reaparecer e espalhar animais pelas paredes da capital. E os britânicos ficaram a coçar a cabeça, tentando perceber o significado da mensagem.

Foto: Getty Images
23 de agosto de 2024 | Madalena Haderer
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Há anos que Banksy andava desaparecido. Mais desaparecido do que é costume, tendo em conta que ninguém sabe quem ele é ou, sequer, como se chama. O que é certo é que há muito tempo que os famosos graffitis feitos a stencil não apareciam em lado nenhum. Até agora. Pouco depois dos protestos de extrema-direita terem alastrado a todo o território britânico – na sequência da morte de três crianças que foram esfaqueadas num evento relacionado com Taylor Swift, em Southport –, os griffitis começaram também a aparecer. Um por dia durante uma semana e meia. Desta vez, animais. Um dos temas típicos de Banksy. E, sendo que o trabalho deste artista tem sempre uma componente política, os britânicos ficaram a coçar a cabeça, tentando entender a mensagem que ele quer passar.

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O frenesim incluiu uma cabra, dois elefantes, três macacos, um lobo, dois pelicanos, um gato, um tanque de piranhas, um rinoceronte e um gorila ajudando um bando de animais a escapar do Zoo de Londres. Como é que sabemos que são mesmo obras originais de Banksy? Para além do estilo inconfundível, o artista publicou fotografias de cada uma das suas obras na sua conta de Instagram, permitindo-lhe alcançar uma audiência global muito maior — com mais de 13 milhões de seguidores — do que era possível quando pintava com spray edifícios em Bristol, Inglaterra, na década de 1990.

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Num momento particularmente dramático, que foi filmado ao vivo por pessoas anónimas e que viralizou, o graffiti de um lobo a uivar, que Banksy pintou numa antena parabólica, foi roubado à luz do dia, por três homens com uma escada que fugiram numa carrinha. Um ato compreensível tendo em conta que um dos seus trabalhos, Love Is In The Bin, foi a leilão por 18,6 milhões de libras – o valor mais alto que uma obra do artista atingiu até ao momento. A verdade é que não é comum fazer-se um roubo de monta com uma escada e uma chave inglesa.

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A 5 de agosto, uma cabra surgiu num antigo edifício industrial no sudoeste de Londres. No dia seguinte, dois elefantes apareceram em duas janelas fechadas com tijolos, no final de uma fila de casas em Chelsea, como se fossem dois vizinhos à conversa. Três macacos foram stencilados a balançar num viaduto ferroviário, perto de uma estação no leste de Londres. Depois foi a vez do tal lobo pintado numa antena parabólica, no sul de Londres. De seguida, foi avistado um par de pelicanos, pousados acima de uma loja de peixe e batatas fritas, como se estivessem a devorar os peixes do placard, no nordeste de Londres. No dia seguinte, um felino adornou um painel publicitário abandonado numa estrada deserta – que entretanto foi removido para não ter o mesmo destino do lobo. A seguir, uma cabine de polícia em vidro foi transformada num tanque de piranhas, no coração do distrito financeiro da cidade. As duas últimas peças da série incluiram um mural de um rinoceronte que parecia estar a trepar para cima de um carro abandonado, e um gorila, nas portadas do maior jardim zoológico de Londres, que levantava uma cortina para permitir que uma foca e várias aves escapassem ao cativeiro.

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Sobre o significado, deste conjunto de obras, de acordo com o jornal britânico Guardian, pessoas próximas do artista bem como a organização Pest Control Office, que o apoia, acham que os críticos de arte estão a fazer leituras políticas demasiado complexas e rebuscadas. É possível que as obras estejam, de facto, relacionadas com os protestos da extrema-direita, mas a intenção de Banksy seria menos de crítica social e mais no sentido de animar o público depois de um período tão sombrio. O objetivo de Banksy seria, então, que as obras alegrassem as pessoas, com um momento de diversão inesperada, sublinhando a capacidade humana para a criatividade, em vez da destruição.

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