É comum os visitantes das exposições e galerias de arte olharem para as, regra geral, enormes telas de Jackson Pollock, como quem olha para um teste Rorschach – aquele que é feito com uma imagens que parecem uns borrões em que é suposto uma pessoa dizer se está a ver uma borboleta ou um demónio, com o objetivo de tirar ilações sobre a personalidade de cada um – na dúvida, diga sempre que está a ver uma coisa fofinha. Ou seja, qualquer imagem concreta encontrada num quadro do pintor era mera coincidência e a sua existência era fruto mais de quem a via – e do seu estado de espírito – do que de uma vontade consciente do artista. Só que a consciência é uma coisa complexa, principalmente no caso de Pollock, que sofria de perturbação bipolar. Posto isto, de acordo com um estudo recente, se, ao virar a cabeça a 90º, der por si a encontrar "garrafas de bebidas alcoólicas, imagens do pintor, macacos, palhaços, elefantes, e mais" nos quadros de Pollock, isso não será fruto nem da coincidência nem da sua imaginação.
O pintor norte-americano criava as suas obras derramando ou atirando tinta para as telas e sempre disse que o seu propósito era evitar qualquer imagem reconhecível. Portanto, na prática, se, com esta técnica de arremesso cromático, alguma imagem reconhecível se formasse, Pollock arranjava maneira de dar conta dela. Mas será que arranjava mesmo? É que para dar conta de algo, é preciso vê-lo. E um estudo publicado na CNS Spectrums – uma revista médica sobre neurociência e psiquiatria, da responsabilidade da Cambridge University Press –, sugere que o pintor, precisamente por causa da bipolaridade, não via e que a sua arte está, portanto, cheia daquilo a que os investigadores chamam "polloglifos" – imagens encriptadas que contam uma história sobre a vida interior do artista.
Os críticos de arte sempre defenderam que não há qualquer imagem nos quadros do pintor e que o que quer que um observador encontrasse dizia mais sobre as suas próprias emoções do que sobre Pollock. Por outro lado, de um ponto de vista psiquiátrico, os autores do estudo, Debbi Ann Morrissette, Stephen M. Stahl e Jon A. Gates, argumentam que "tendo em conta que Pollock tinha transtorno bipolar, pintava quando estava eutímico ou maníaco, e não quando estava intoxicado ou deprimido, teve uma exposição extensa às manchas de tinta de Rorschach durante o seu próprio tratamento psiquiátrico, possuía imagens visuais e alucinações de imagens, incorporava claramente figuras nas suas pinturas pré-drip (veja-se, por exemplo, Troubled Queen), e usava repetidamente as mesmas imagens em várias pinturas drip (como garrafas de álcool, imagens de si próprio, macacos, palhaços, elefantes e mais), uma visão alternativa é que Pollock, consciente ou inconscientemente, encriptava imagens nas suas pinturas drip".
Portanto, já sabe, da próxima vez que tiver oportunidade de admirar uma obra de Pollock, se começar a encontrar diversas garrafas de bebidas alcoólicas, não fique excessivamente preocupado com o que isso possa querer dizer a seu respeito.