Negócios do Luxo

Milan Design Week 2025. A convergência do savoir-faire e da inovação nas marcas de luxo

Entre palácios neoclássicos e instalações imersivas, a edição deste ano confirmou-se como o grande palco onde o luxo contemporâneo se reinventa através da sensibilidade, da inovação e da excelência artesanal.

Foto: @Hermès
17 de abril de 2025 | Safiya Ayoob
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Em abril, Milão não é apenas uma cidade – é um epicentro global onde a criatividade se transforma em matéria, onde o luxo encontra novas linguagens e onde as marcas mais influentes do mundo exploram a interseção entre arte, design e experiência. A 63ª edição da Milan Design Week, que decorreu de 7 a 13 de abril, voltou a ser palco de afirmação para o futuro do luxo, reunindo nomes históricos e novos protagonistas em propostas que desafiam os limites da forma, da função e da emoção. Como recorda Elisabetta Caprotti, editora da Vogue Italia, em entrevista à Vogue Business, "participar significa posicionar-se num contexto de elevada criatividade, onde o design é uma linguagem universal". É nesse palco que casas como Hermès, Bugatti Home, Dior – e outras como Loewe e Fendi Casa – apresentam narrativas visuais e táteis que transcendem o simples objeto. Estas marcas não vieram apenas para mostrar; vieram para provocar sensações, contar histórias e afirmar uma visão.

Na icónica La Pelota, a Hermès voltou a sublinhar a mestria no cruzamento entre materialidade e imaterialidade. A cenografia de Charlotte Macaux Perelman, diretora artística da Hermès Maison, e Alexis Fabry, envolveu-nos num universo suspenso: caixas brancas – quase translúcidas – que projetam halos de cor no chão, como se os objetos tivessem a sua própria alma luminosa. "É através da imaterialidade da sua aura que os objetos são desvendados pela primeira vez, como emoções", descreve a marca com a poética que lhe é característica. A nova coleção explora esta filosofia com peças que são mais do que funcionais: são símbolos de uma memória sensorial. As jarras de vidro soprado, as cestas de pele com padrão tartan e as mantas de caxemira bordadas à mão demonstram uma reverência absoluta ao savoir-faire artesanal. Já o serviço de porcelana En Contrepoint, com ilustrações do artista Nigel Peake, convida a uma experiência quase sinestésica – como se cada peça emitisse um som, uma vibração.

Foto: @Hermès

Num dos acontecimentos mais marcantes desta edição, a Bugatti Home inaugurou o  primeiro Atelier em Milão, no prestigiado Palazzo Chiesa. Mais do que um showroom, este espaço é um manifesto de design e engenharia emocional. Com divisórias metálicas, iluminação precisa e detalhes em azul Bugatti, o ambiente reflete o ADN da marca – em que a forma segue a potência e o design é sempre dinâmico. A Coleção Cápsula 2025 revela peças como a cadeira TYPE_18 e a poltrona TYPE_17, que transportam para o mobiliário a mesma energia dos hiperdesportivos da marca. Linhas aerodinâmicas, curvas escultóricas e materiais de alta precisão celebram o equilíbrio entre arte e desempenho. Mas é talvez na cama TYPE_19 – com a cabeceira flutuante inspirada no mar – que melhor se traduz a poesia mecânica da Bugatti Home. Como culminar, os acessórios da coleção elevam o quotidiano a um ritual de sofisticação: vasos em vidro de Murano, mantas em caxemira com texturas 3D, tabuleiros futuristas e até um conjunto de gamão que faz da estratégia um ato de luxo.

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Foto: @Bugatti

Na extensão da coleção Ode à la Nature, a Dior Maison apresentou três jarras monumentais assinadas por Sam Baron, com quase um metro de altura cada uma. Feitas em vidro italiano soprado à boca, estas peças evocam o universo encantado de Monsieur Dior, entrelaçando flores, ramos e folhas com uma delicadeza etérea. Inspiradas na silhueta do frasco original do perfume Miss Dior de 1947, estas obras dialogam com a herança da casa num jogo entre alta-costura e artesanato. Cada jarra repousa sobre um pedestal elegante, refletindo a luz num efeito estriado cintilante que transforma estas peças em esculturas vivas. Disponíveis em apenas oito exemplares, estas criações são mais do que objetos de decoração – são manifestações de um ideal estético que funde o natural com o sobrenatural.

Foto: @Dior

Na monumentalidade clássica do Palazzo Serbelloni, a Louis Vuitton revelou uma das propostas mais ecléticas e sensoriais desta edição da Milan Design Week. A coleção Objets Nomades, com peças visionárias assinadas por nomes como Patricia Urquiola e o Estúdio Campana, reafirma a capacidade da maison em fundir inovação e artesanato de forma magistral. Entre o luxo lúdico de uma máquina de pinball criada com Pharrell e a delicadeza escultórica de um gira-discos feito de pétalas de pele, a marca desenha um novo mapa do requinte contemporâneo. Destacou-se ainda uma instalação inspirada em Fortunato Depero, na qual tapeçarias e cerâmicas transformam a tradição italiana num espetáculo de cor e fantasia. Como gesto final, a reconstrução da icónica La Maison au Bord de l’Eau, de Charlotte Perriand, funcionou não só como um símbolo de hospitalidade sofisticada, como também como metáfora da intemporalidade que pauta o ADN da Louis Vuitton.

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Foto: @Louis Vuitton

Já no Cortile della Seta, a Loro Piana, em colaboração inédita com a Dimoremilano, apresentou La Prima Notte di Quiete – uma instalação em que o design se encontra com o cinema numa atmosfera de nostalgia refinada. Ao atravessar o espaço, envolto em veludo carmesim, padrões felinos e iluminação de época, os visitantes são transportados para uma casa-cenário na qual cada peça conta uma história. A cama redonda Varallo, em veludo mohair, e as mesas de centro Quarona evidenciam o rigor estético da marca e a sofisticação da matéria. Complementa-se a experiência com sons ambientados por Nicola Guiducci, que acentuam a tensão entre o silêncio e o quotidiano. Destaque ainda para a nova coleção de louça de mesa Punti a Maglia, feita em porcelana de Limoges com fios dourados que evocam o universo têxtil da Loro Piana. A instalação é, no fundo, um ensaio sobre o conforto como forma de arte e sobre a memória como veículo de luxo.

Foto: @Loro Piana

A Semana de Design de Milão 2025 provou, mais uma vez, que o luxo não é apenas uma questão de estética – é, acima de tudo, uma questão de narrativa e de experiência. Como afirmou a Forbes, "este duo dinâmico – Salone del Mobile e Fuorisalone – dá o pontapé de saída efetivo para a temporada criativa global, atraindo aficionados do design de todo o mundo". Num universo em constante mutação, em que a inteligência artificial, a sustentabilidade e a personalização moldam novas exigências, as marcas de luxo reafirmam-se através do que têm de mais eterno: a beleza, a emoção e o domínio do tempo.

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