Num mercado em que muitas marcas lutam para manter o prestígio e relevância, como marcar a diferença? A Hermès continua a desafiar todas as previsões, consolidando-se como uma referência incontornável do luxo mundial. Com um crescimento impressionante e uma influência cada vez maior, a maison francesa não só reafirma a sua posição de liderança no setor, como também redefine o conceito de exclusividade e artesanato de excelência.
O mais recente anúncio dos resultados anuais, publicado a 14 de fevereiro, veio comprovar a força do modelo de negócio da Hermès. Em 2024, a empresa atingiu uma receita de 15,2 mil milhões de euros, representando um crescimento real de 15%, sem impacto das variações cambiais. No último trimestre, os resultados foram ainda mais impressionantes, com um aumento de 18%, superando largamente as previsões dos analistas. Este desempenho coloca a Hermès numa posição privilegiada no setor, especialmente quando comparada com outras grandes casas de luxo. Enquanto a LVMH registou um crescimento modesto de 1% e a Kering viu as vendas caírem 12%, a Hermès mantém um ritmo de expansão sólido e sustentado. O mercado reagiu de forma entusiástica a este desempenho, com a capitalização bolsista da empresa a ultrapassar os 319 mil milhões de dólares, atingindo um patamar histórico.
Fundada em 1837 como uma oficina especializada em selaria, a Hermès transformou-se numa das marcas mais desejadas e respeitadas do mundo. A filosofia assenta na preservação do savoir-faire artesanal, no controlo absoluto da produção e numa abordagem muito pensada face ao seu crescimento. Cada peça, seja uma icónica Birkin ou um simples lenço de seda, é concebida com um nível de atenção ao detalhe que poucas marcas conseguem igualar. Este compromisso com a qualidade e a intemporalidade tem garantido à maison uma base de clientes fiéis e uma posição invejável neste seleto universo.
O sucesso contínuo da Hermès reside na recusa em comprometer a qualidade e na manutenção de um nível de produção altamente controlado. Cerca de 74% dos seus produtos são fabricados em França, garantindo um rigor absoluto no acabamento de cada peça e protegendo um savoir-faire que se transmite de geração em geração. Para reforçar esta aposta, a maison anunciou três novos projetos de ateliers de marroquinaria em França, que estarão concluídos nos próximos três anos, criando mais empregos e fortalecendo a estrutura de produção interna. Paralelamente, a marca tem investido na expansão da rede de lojas, mas sempre com um critério rigoroso de exclusividade. Em 2024, foram inaugurados espaços em Tóquio, Wuxi (China) e Princeton (EUA), além da renovação de algumas boutiques estratégicas em mercados-chave como os EUA, o Japão e a China.
A divisão de artigos de couro e marroquinaria, pilar fundamental da Hermès, registou um crescimento de 18% em 2024, reforçando a importância desta categoria no portefólio da marca. O pronto-a-vestir e acessórios tiveram uma subida de 15%, enquanto a perfumaria e beleza cresceram 9%. A única exceção foi o segmento de relógios, que registou uma ligeira queda de 4%, sem, no entanto, comprometer o desempenho global da empresa. Regionalmente, o crescimento foi generalizado, com destaque para o Japão (+23%), Europa (+17%) e Américas (+15%), enquanto a Ásia-Pacífico (excluindo o Japão) teve um aumento mais moderado de 7%, refletindo a incerteza económica na China.
Em 2024, a marca lançou a nova fragrância feminina Barénia, apresentou uma nova coleção de Haute Bijouterie e expandiu a linha de artigos para a casa com o serviço de mesa Tressages équestres. Na Moda, tanto a coleção de pronto-a-vestir masculino como a feminina foram aclamadas, reforçando a criatividade da maison. Mas uma das grandes novidades foi o anúncio da entrada da Hermès na Alta Costura, com um lançamento previsto para 2026/2027, um passo que reflete o desejo da marca de continuar a elevar o savoir-faire a novos patamares. No campo da tecnologia, a parceria com a Apple manteve-se forte, com o lançamento da Apple Watch Series 10 Hermès, que une inovação e tradição de uma forma singular.
A somar a tudo isto, a Hermès tem vindo a consolidar-se como um exemplo de responsabilidade social e ambiental. Em 2024, a empresa concedeu um bónus excecional de 4500 euros a todos os funcionários globais, uma demonstração do compromisso com aqueles que contribuem diariamente para o seu sucesso. Além disso, conta com mais de 16 mil acionistas entre os colaboradores, reforçando a cultura de partilha de valor. No campo ambiental, a maison registou uma redução de 63,7% nas emissões de carbono (escopos 1 e 2) desde 2018, sendo que 97,9% da eletricidade utilizada provém de fontes renováveis. O consumo de água industrial também foi reduzido em 65,4% na última década, demonstrando um forte compromisso com a sustentabilidade. A inclusão e diversidade são outros pilares da estratégia social da empresa: 48% dos cargos de maior responsabilidade são ocupados por mulheres, e na França, 7,12% dos funcionários possuem algum tipo de deficiência, superando a exigência legal.
À medida que 2025 se inicia, a Hermès mantém uma perspetiva ambiciosa, apesar das incertezas económicas e geopolíticas. A empresa continuará a investir no crescimento equilibrado da rede de distribuição, na criação de novas fábricas e na expansão do catálogo, sempre com a exclusividade como fio condutor. Num setor em que muitas marcas cedem à tentação de crescer rapidamente, a Hermès segue um caminho diferente: um crescimento seletivo, sustentado e ancorado em valores sólidos. Na maison, o luxo não é apenas uma questão de preço, mas de significado.