Com a chegada da Van Cleef & Arpels a Lisboa abre-se uma porta para um mundo encantado de fadas, bailarinas, borboletas e flores, criadas com as mais maravilhosas das pedras preciosas. Um mundo de rara beleza que fascina gerações (com poder de compra) há mais de um século.
A história da marca nasce de um casamento afortunado, entre Estelle Arpels e Alfred Van Cleef, ela de uma família de comerciantes em pedras preciosas, ele de uma afamada família de ourives. Unem a paixão e o métier para inaugurar, em 1906, a sua primeira loja no nº 22 da Place Vêndome. Ao lado da primeira Van Cleef & Arpels brilhavam nomes como Boucheron, Chaumet ou Cartier e mesmo em frente o Ritz, o novo hotel que rapidamente se transformou na casa parisiense da realeza europeia e de toda uma geração de aristocratas e industriais endinheirados, muitos deles vindos dos Estados Unidos.
Ao longo dos anos, a VC&A conseguiu afirmar um estilo único, desenvolvendo técnicas exclusivas como a reconhecida Serti Mystérieux, uma forma de prender as pedras sem qualquer gancho visível. Ainda hoje esta técnica é uma imagem de marca, e uma habilidade secreta conhecida apenas por seis ou sete das suas artesãs.
Tudo isso pode agora ser visto em Lisboa, num espaço amplo com 200 metros quadrados, dividido por salões decorados com madeiras exóticas, couro, sedas ou linhos - e até motivos da nossa azulejaria tradicional. Um espaço onde domina a Art Déco, e os tons pastel, criando um ambiente contemplativo perfeito. Felizmente, nem todas as peças são exclusivas para milionários, e muitas entram dentro da lógica do luxo acessível, com preços a rondarem os dois mil euros, ainda que nenhuma delas vá entrar no salão Poétique. Esta é a área mais bonita da loja, uma espécie de boudoir resguardado, para que os VICs (very important clients) possam fazer as suas compras longe de olhares curiosos. Até lá chegar, no entanto, passamos por um espaço onde muitos mais quererão ficar. Trata-se de um simpático bar, perfeito para relaxar e tomar qualquer coisa, antes de tomar a difícil decisão e escolher o que comprar... Este é apenas o terceiro bar em toda a rede de lojas da maison - e o primeiro na Europa -, mas os cocktails e os snacks são de inspiração exclusivamente parisiense. Será no bar, também, que a decoração vai integrar um conjunto de painéis de azulejos portugueses, feitos em exclusivo pela Viúva Lamego com base num lacado de uma antiga caixa de charutos desenhada pela VC&A há mais de um século.
A loja estava nos planos da casa francesa - em parceria com a Boutique dos Relógios - há quatro ou cinco anos, mas depois de encontrada a localização perfeita (vizinha da Prada e da Rosa & Teixeira) tudo avançou muito rapidamente. Como nos explicou o presidente para a Europa, Guy Chatillon, tal deve-se a uma aposta muito clara e forte na nossa rápida recuperação. Oxalá tenha razão.
Caixa
Relojoaria poética
Os dois amantes aproximam-se ao longo do dia. Ela marca as horas, ele os minutos. Duas vezes por dia (ao meio-dia e à meia-noite) encontram-se no meio da ponte e, após uma breve pausa - de hesitação ou suspense? -, juntam-se e beijam-se apaixonadamente. O movimento também pode ser replicado a pedido, basta tocar num botão, mas quando acontece "naturalmente" o beijo dura um minuto e isso faz-se com que o relógio se atrase um minuto, duas vezes por dia, e por isso o movimento tem de recuperar no resto do tempo…. A Van Cleef é reconhecida sobretudo como marca de joalharia, mas isso não a impede de oferecer algumas preciosidades no domínio da relojoaria, sempre com esta nuance: o saber fazer, ou as complicações, nunca existem porque sim, como é tradicional, mas para servir alguma mensagem. A maison chama-lhe complicações poéticas, de que este Pont des Amoureux é um excelente exemplo. Mas não é o único, como também poderá ver na nova loja de Lisboa, numa pequena sala mais dedicada à relojoaria.