No dia 24 de maio de 1962, às 7h45 da manhã (12h45 em Portugal) começava o countdown para mais uma missão do Projeto Mercury, na génese da NASA. Mais de 40 milhões de espetadores assistiram em direto ao descolar da Aurora 7 e do astronauta Scott Carpenter, que largava para uma missão de cariz essencialmente científico. Carpenter seria apenas a sexta pessoa a ir para o espaço, e o segundo a dar mais do que uma volta completa à Terra, mas no pulso levava também aquele que ficaria para a história como o primeiro relógio suíço no espaço.
Todos conhecemos a história dos Speedmaster e da Lua, mas foram vários os relógios ligados à conquista espacial. Desde logo um Sturmanskie levado por Yuri Gagarin no voo original. Será o primeiro oficialmente (re)conhecido, mas é provável que tenham existido outros, enviados nos voos não tripulados. Antes da NASA ter testado e escolhido os Omega como relógios oficiais, os astronautas levavam os seus próprios relógios, e foi o que aconteceu neste caso. Nessa altura, os Breitling Navitimer eram, sem dúvida, os relógios de aviador mais conhecidos e Carpenter, um antigo piloto de caças, adorava o seu. Neste caso, no entanto, fez um pedido especial à própria Breitling, no sentido de criar um Navitimer com mostrador de 24 horas, em lugar das 12 habituais. Nas cinco horas que passou no espaço, Carpenter orbitou a Terra por três vezes, ou seja, assistiu a outros tantos nascer e pôr do sol, e com esta pequena alteração garantia que não se confundia. Nascia assim o primeiro Navitimer Cosmonaute, um relógio que a Breitling reeditou agora, numa edição especial e comemorativa.
O regresso à Terra não correu como esperado, e uma sucessão de problemas fizeram com que amarasse muito longe do local previsto. Passaram algumas horas até que a cápsula fosse encontrada e mais algum tempo até ao salvamento, mas Scott Carpenter estava, felizmente, bem de saúde. Apesar de exausto e encharcado até aos ossos. Infelizmente, o mesmo não se podia dizer em relação ao Breitling.
Sem ser à prova de água – talvez Carpenter devesse ter feito também esse pedido – as horas passadas no mar salgado danificaram o Cosmonaute ao ponto de não ser reparável. A partir desse momento, o relógio desapareceu, com colecionadores e curiosos a questionarem-se durante décadas sobre o seu destino. Sabe-se agora que passou para as mãos da família Breitling, que ainda controlava a marca nessa altura, e que ficou os 60 anos seguintes serenamente guardado num cofre.
Mas o modelo "inventado" por Carpenter tornou-se um sucesso comercial na altura, inclusivamente junto dos outros astronautas, pelo que a marca suíça fez agora questão de, finalmente, revelar o original nesta celebração, juntamente com outro Breitling Navitimer Cosmonaute da mesma altura, este pertencente ao astronauta John Glenn, e em perfeitas condições.
Quanto ao relógio comemorativo esse parece, à primeira vista, uma fiel reprodução do original, com o mostrador preto e escala de 24 horas. Está disponível numa bracelete em aço inoxidável de sete fileiras e em pele de crocodilo preta, mas apresenta também um novo bisel em platina, que lhe confere um toque extra de classe. Outra característica é o fundo de caixa em cristal de safira transparente, que permite contemplar o movimento B02 e as gravações especiais, desenhadas no movimento para assinalar a ocasião: as palavras "Carpenter", "Aurora 7" e "3 orbits around the Earth", juntamente com o nome do grupo original composto pelos sete astronautas selecionados para os primeiros voos espaciais tripulados da NASA, "Mercury 7".
Com esta nova edição, também já não precisa de se preocupar com os mergulhos no mar, pois é absolutamente estanque até aos 30 metros.