Estilo / Relógios e Jóias

O regresso dos luxuosos relógios dos anos 70

A década de 70 está na moda com uma nova interpretação do luxo desportivo e colorido, uma tendência que a relojoaria nunca abandonou. Por isso, os relógios são o acessório do momento.

Steve McQueen no Les Mans com um TAG Heuer, 1971 Foto: D.R.
21 de fevereiro de 2020 | Bruno Lobo
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Os anos de 1970 estavam por todo o lado durante a mais recente semana de moda de Paris. Nas passerelles com nomes como Chloé, Céline ou Louis Vuitton, nas ruas, onde editoras de moda e influencers passeavam longos jeans brancos, calças boca de sino, de xadrez (ou boca de sino e de xadrez ao mesmo tempo), botas de cano alto, vestidos de seda plissados ou de ganga, óculos de aviador XL, trench coats e lenços ao pescoço. Tout-Paris aderiu à tendência nouvelle bourgeoise, incluindo a Bell & Ross que a partir da sede, junto à Avenue Kleber, revelou o BR05, a sua interpretação daqueles anos. A inspiração foi tão óbvia que não faltou quem se apressasse a gritar "Cópia!", ou a sussurrar "Nautilus dos pobres" porque a influência do famoso relógio da Patek Philippe era por demais evidente, embora não fosse complicado descortinar elementos de outros grandes clássicos da época, como o Royal Oak, da Audemars Piguet.

As críticas não foram inteiramente justas, até porque tendo um preço a rondar os €4.500, o Bell & Ross é, sem dúvida, mais democrático do que um Nautilus, de €60.000, mas não é definitivamente para "pobres". Além disso, em relojoaria nunca será difícil descobrir semelhanças entre diferentes modelos.

Pouco depois, foi a vez da Chopard revelar a coleção Alpine Eagle, baseada num modelo antigo e em aço com a bracelete integrada na caixa, como é apanágio da época, provando que os anos de 1970 estão mesmo de volta, se é que alguma vez foram a algum lado.

A década foi particularmente catastrófica para a indústria relojoeira e o quartzo por pouco não relegou a tradicional indústria mecânica para os livros da história, só que num panorama generalizado de falências e de despedimentos, algumas marcas escolheram arriscar, gerando uma das épocas mais criativas em termos de design com novos formatos de caixa e novas combinações de cores e de mostradores. Foi durante esses anos que o nome de Gerald Genta se tornou famoso. Já tinha criado modelos icónicos antes, como os Omega Constellation, em 1959, e voltou a fazê-lo, mais tarde, com o Pasha, de Cartier, em 1985, mas o seu trabalho durante esta década não tem paralelo. A ele se deve, entre outros modelos, o referido Nautilus, da Patek Philippe, em 1976, ou o redesign do Ingenieur, da IWC, nesse mesmo ano. Antes, em 1972, desenhou o Royal Oak, da Audemars Piguet (AP), e com este relógio inventou uma nova categoria, o relógio desportivo de luxo, onde estes se inserem. Hoje em dia parece óbvio, mas na altura existiam dois tipos de relógios, os elegantes em ouro e os relógios utilitários em aço para as classes menos favorecidas. O Royal Oak era em aço, sim, mas custava mais do que muitos relógios da Audemars no metal precioso. O sucesso foi de tal forma estrondoso que muitos outros modelos e marcas se lhe seguiram: a Vacheron Constantin apressou-se a lançar a génese da linha Overseas, a Girard Perregaux os Laureato, a IWC a refazer o Ingenieur ou a Patek a criar o Nautilus. E estamos apenas a citar os modelos que perduraram no tempo até aos nossos dias.

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Audemars Piguet, Royal Oak

O Royal Oak (RO) é considerado o "primeiro relógio desportivo de luxo", um atributo que ninguém disputa. Desenhado por Geral Genta, em 1972, ganhou a alcunha de "jumbo" porque os 39 mm da caixa original eram considerados enormes para a altura. Hoje é um muito apreciado downsizing. O RO impôs-se pelo design inovador, marcado por uma caixa octogonal com oito parafusos (inspirados nos capacetes dos mergulhadores), pelo mostrador em tapisserie (entrelaçado) e pela perfeita integração entre caixa e bracelete em aço. Desde então o destino da AP ficou intimamente ligado a este modelo e mesmo que, nos anos subsequentes, se tenham adicionado novas complicações, materiais inovadores e acrescentado outra coleção (a Royal Oak Offshore), o modelo atual difere muito pouco desse jumbo original.

Foto: D.R.

 

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Bell & Ross, BR05

Se a inspiração nos modelos dos anos 1970, sobretudo no Nautilus, parece evidente, é claro que continua a existir uma linguagem comum com os outros modelos da Bell & Ross, como os BR 01 e BR 03. Ou seja, confirma-se que é muito mais do que uma mera cópia.

Foto: D.R.
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Patek Philippe, Nautilus

O Nautilus foi desenhado em 1976 e, na altura, não faltaram comparações com o RO. Como o designer era o mesmo não podia ser acusado de plágio, mas o relógio não foi muito bem recebido para os lados da Audemars Piguet. Ainda assim, os dois modelos parecem bastante diferentes, pois se o Royal Oak se define pelas linhas retas e de arestas polidas, o Nautilus flui mais suave e curvilíneo. Ganhou também a alcunha de "jumbo" e por maioria de razão, pois tinha uma caixa de 42 mm. Com o tempo tornou-se a coleção desportiva da Patek e o seu estatuto é tão grande que quem quiser adquirir um, como o Calendário Anual apresentado em Basileia, tem de passar por uma longa lista de espera.

Foto: D.R.
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Vacheron Constantin, Overseas

Em relojoaria também existe uma Santíssima Trindade, composta por três históricas marcas: Vacheron, Patek e Audemars. Com o sucesso dos RO e os planos para apresentar o Nautilus, a Vacheron Constantin não podia ficar atrás dos seus rivais mais diretos e, em 1977, apresentou o modelo 222 porque nesse ano celebravam o 222.º aniversário. Erradamente, muitos atribuíram o design a Gerald Genta, quando na realidade foi desenhado por Jörg Hysek. Em 1996, o 222 evoluiu para a linha Overseas, mas o código genético continua bem evidente. 

 

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Girrard Perregaux Laureato

A Girrard Perregaux foi outro nome histórico que apresentou um desportivo, logo em 1975. O Laureato esteve vinte anos em produção, renasceu em 2017, e é já a coleção com mais referências da marca, tanto para homem como para mulher.

Foto: D.R.

Chopard, Alpine Eagle

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Em 1980, no limiar da década, Karl-Friedrich Scheufele (hoje copresidente da Chopard, a par da irmã Caroline) desenhava o seu primeiro relógio, o St. Moritz. A Alpine Eagle é a reinterpretação desse modelo, feita não por ele, mas pelo filho, que assim se estreou nestas artes.

Foto: D.R.

Chopard Happy Diamonds

Durante a citada década, a Chopard criou uma das suas assinaturas mais impressionantes com a coleção Happy Diamonds: diamantes que brincam, soltos, no mostrador ao longo do dia. A coleção continua presente e a ideia expandiu-se para a coleção Happy Sport – mais um grande símbolo do luxo desportivo.

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Foto: D.R.

Piaget Possession

Nos anos 70 ninguém criou relógios bracelete como a Piaget, seja no modelo Polo original, no masculino, seja nas muitas versões femininas, onde a marca de La Côte-aux-Fées brincava com as pedras coloridas no mostrador em perfeita sintonia com o espírito da época. De então e de agora, razão pela qual esses modelos voltaram a ser recriados na linha Possession.

Foto: D.R.
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TAG Heuer, Mónaco

Em 1969, a TAG Heuer, então apenas Heuer, lançava um dos seus modelos mais importantes, o Mónaco, que viria a afirmar-se na década seguinte "levado ao pulso" por ícones, como Steve McQueen, que não o dispensavam nas pistas de corrida. Apesar de lhe faltar alguns dos códigos da época, como o design integrado, partilha uma caixa fora do comum e mostradores coloridos, como se pode ver pelo modelo original e pela edição comemorativa lançada este ano, inspirada (naturalmente) nos seventies.

Foto: D.R.
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IWC, Ingenieur 

O Ingenieur nasceu em 1954, mas em 1976 o seu redesign foi entregue a Gerald Genta que adotou a caixa redonda do modelo original à sua nova filosofia. O resultado é um dos IWC mais procurados por colecionadores e a base para a recriação apresentada o ano passado.   

Foto: D.R.
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