Comprar o seu Rolex de sonho não é tão fácil quanto ir à loja e pedir o modelo concreto, passar o cartão e levar num saco para casa. Apesar de manufaturarem mais de um milhão de relógios por ano e de existirem 30 milhões de relógios Rolex em circulação, a procura não é satisfeita, resultando em listas de espera que podem durar vários anos. Nesta procura incessante, um relógio usado pode valer até o dobro ou mais do preço de um comprado em loja, tornando a tão amada marca a principal fonte de rendimento de muitos vendedores de relógios em segunda mão.
Para satisfazer a procura sem ter de aumentar a produção, a Rolex anunciou, em dezembro do ano passado, que teria, em determinadas boutiques, na Suíça, Áustria, Alemanha, França, Dinamarca e Reino Unido, relógios usados certificados e mantidos conforme os parâmetros de qualidade da marca e com dois anos de garantia. Neste processo, ao não introduzir mais relógios no mercado, a marca não corre o risco de desvalorizar as suas peças por pressão dos consumidores. A logística de comprar, reparar e vender relógios usados faz com que as marcas se afastem do mercado em segunda mão, o que faz da Rolex uma pioneira neste ramo, habitualmente dominado por vendedores exteriores não autorizados. Comprando diretamente à marca, o selo de certificação simboliza o estatuto e autenticidade que mais de 100 anos de História retêm.
Em 1905, Hans Wilsdorf fundou uma empresa em Londres especializada em relógios e em 1908 deu-lhe o nome de Rolex. Hans idealizava um relógio utilizado no pulso, mas que tivesse a precisão gabada pelos ingleses. Em 1910, um relógio Rolex foi o primeiro a receber o Certificado Suíço de Precisão Cronométrica e, 4 anos mais tarde, no Reino Unido, recebeu uma classificação A de precisão pelo Kew Observatory, até então uma classificação reservada apenas a cronómetros marinhos. Mais de 100 anos depois, em 2021, estima-se (sem precisão dada a privacidade da marca) que a marca continua em crescimento, atingindo 8,56 mil milhões de dólares em vendas e detendo assim 28,8% do mercado, o equivalente às seguintes cinco maiores marcas, de acordo com um relatório da Morgan Stanley, mencionado pelo The New York Times.
Quase um ano depois do começo da iniciativa, os relógios vendidos oficialmente completam apenas 1% dos vendidos no mercado de segunda mão, indica a Bloomberg. Equiparando ao mercado automóvel, as marcas há muito que vendem carros usados certificados, mas com um preço associado. Um vendedor não oficial vende os mesmos carros mais baratos e sem garantia. Assim, no mercado relojoeiro, a iniciativa da Rolex resulta, acima de tudo, com novos compradores, pois os colecionadores mais antigos já têm os seus vendedores de confiança a quem compram a um preço mais reduzido.
Os vendedores e colecionadores de relógios concordam numa coisa: nos próximos cinco anos esta aposta da Rolex vai retirar muitos vendedores mais pequenos do mercado e todos serão obrigados a diversificar a sua coleção, não podendo contar com a Rolex para ser o seu ganha pão.