Se Hollywood tem os óscares e a estatueta dourada, o mundo da relojoaria tem o Grand Prix d'Horlogerie de Genéve e a mão dourada. Por isso, tal como em Los Angeles, a indústria reúne-se todos os anos em Genebra para uma noite onde elege os melhores em 20 categorias, incluindo o relógio mais icónico, os melhores masculino e feminino, modelos simples e complicados, ou o design mais artístico.
A concurso estiveram 57 marcas, todas com fundadas esperanças de levar um dos galardões para casa, mas a foi a IWC quem brilhou mais alto ao vencer na categoria Aiguille d’Or, ou "ponteiros de ouro", atribuído aquele que é considerado o melhor relógio do ano.
Quem também teve razões para sorrir foram a Van Cleef & Arpels e a Chopard. A primeira foi mesmo a mais premiada da noite, ao vencer em três categorias: Relógio Feminino, com Lady Arpels Jour Nuit; Relógio Feminino Complicado com o Lady Arpels Brise d’Été, uma "complicação poética", na qual a abertura das pétalas marca a passagem do tempo; e o Prix des Métiers d'Art com o Lady Arpels Jour Enchanté. Já a Chopard arrecadou o prémio de Montre Joaillerie ou relógio joia, com a Montre à secret de Haute Joaillerie Laguna; e o Grand Prix de l’Éco-innovation com o Chopard, L.U.C Qualité Fleurier, em Lucent aço reciclado. A Piaget, com o Polo 79 venceu o Prémio de Relógio Icónico e a Bovet 1822 o prémio de Exceção Mecânica, com o Récital 28, um modelo que soluciona a atualização das Horas de Verão e de Inverno.
A cerimónia deste ano ficou marcada por uma maior diversidade entre os vencedores, com prémios atribuídos a marcas independentes, micro e oriundas de diferentes países — uma mudança significativa numa indústria tradicionalmente dominada por nomes com séculos de história. Este cenário confirma a tendência que já abordámos no artigo "As marcas de relógios que nunca ouviu falar, mas devia", onde antecipávamos o potencial de muitos destes vencedores.
Casos como os da Voutilainen e da De Bethune comprovam essa diversidade. A primeira venceu o prémio de Relógio Masculino Simples com o KV20i Inversé, enquanto a segunda conquistou o prémio de Relógio Masculino Complicado com o DB Kind Of Grande Complication, que apresenta uma caixa invertida e um duplo mostrador. Já a Berneron recebeu o Prémio de Audácia com o Mirage Sienna e a Rémy Cools foi galardoada com o Prix Révélation Horlogère pelo Tourbillon Atelier.
A lista completa dos vencedores de 2024 pode ser consultada aqui.
O grande vencedor: IWC Portugieser Calendário Eterno
Vamos então saber mais sobre o grande vencedor da noite, o IWC Portugieser Calendário Eterno, que se destacou pela sua impressionante precisão, com fases da lua que só precisarão de ajuste daqui a 45 milhões de anos.
A família Portugieser tem, desde logo, essa curiosidade de ter nascido de um pedido especial de dois comerciantes portugueses nos anos 1930. Dai o nome. De lá para cá afirmou-se como a mais importante na marca de Schaffhausen, o que justifica a sua escolha para introduzir um calendário perpétuo cuja precisão supera qualquer modelo jamais criado. Até agora, o anterior máximo situava-se perto dos 2 milhões de anos, o que é uma diferença abismal. E embora ninguém vá cá estar para verificar o resultado daqui por 45 milhões de anos, o certo é que a precisão se estende ao resto do mecanismo reconhecendo, igualmente, as exceções nos anos bissextos. Isto porque a cada 400 anos (mais ou menos), o nosso calendário "salta" um dos anos bissextos, e o próximo será já em 2100. Com este modelo a IWC consegue que o relógio permaneça atualizado até 3999, razão pela qual a preferiu chamá-lo de Calendário Eterno, em vez de Perpétuo. Uma pequena grande maravilha do engenho humano e um prémio merecido.