Estilo / Relógios e Jóias

Gravar num relógio desvaloriza-o?

Escrever algo neste acessório é um gesto romântico e apreciado, mas pode também ser um grande erro numa peça de valor.

Foto: Getty Images
Ontem às 15:55 | Lara Duarte / Com Rita Silva Avelar
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Paul Newman recebeu um relógio da mulher a recomendar que conduzisse com cuidado, Marlon Brando gravou o próprio relógio no set de um filme, Ayrton Senna agradeceu a Angelo Parrilla na parte de trás de um Rolex Daytona. A personalização de um relógio pode ser um gesto de imensa gratidão e valor (não só monetário), mas é, com certeza, uma decisão conduzida pelo coração e não pela cabeça.

A personalização de um relógio, especialmente quanto mais alta for a gama, deve ser ponderada como se de uma tatuagem se tratasse. Os parâmetros a ter em conta são equiparáveis entre os dois: o profissional, o material, a base, o design e, por fim, a irreversibilidade da decisão.

Antes de mais, retiremos o aspeto mais negativo da equação. Gravar um relógio retira-lhe valor de revenda se pretender um dia ter o seu dinheiro de volta. Para manter o valor de uma peça deve manter ao máximo o aspeto intacto com que saiu da loja. Isto, claro, a não ser que seja uma celebridade, um dia. Relógios de Marlon Brando, Steve McQueen e Paul Newman renderam vários milhões em revenda pelas suas gravações históricas.

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Se a desvalorização material do seu relógio não impede a vontade de tornar uma peça mais especial, comece por procurar um especialista em gravar relógios e peças de joalharia, que inclusive saiba desmontar a peça caso necessário. Muitas marcas oferecem esse serviço quando se compra um relógio e até mesmo partes de trás substituíveis caso a ideia corra mal. Não, a loja que grava coleiras de cães e faz chaves não é uma boa decisão - ninguém quer aquele aspeto de medalha da escola com os rebordos amarelos queimados.

Com o especialista escolhido deve observar com cuidado o mostrador do seu relógio. Na parte de trás do relógio podem estar informações e símbolos que não convém serem tapados, como por exemplo números de série e de registo. Caso tenha já algo gravado e não deixe espaço para mais, pode gravar na lateral da caixa do mostrador, apesar de em muitos deles não ser possível, pela finura desse sítio. Gravar num dos encaixes na bracelete pode ser uma boa ideia se estiver com algumas dúvidas, já que esta pode ser facilmente substituída. É também um sítio mais exposto, caso queira exibir a sua gravura.

Numa caixa de metal, seja precioso ou aço, a gravura é simples e direta. Pode ser feita à mão, tradicionalmente, ou com uma máquina, sem limitações. No entanto, se o relógio tiver uma parte de trás transparente, feita de vidro ou safira, ou que o próprio esqueleto esteja à vista, a gravação torna-se mais complicada. Este tipo de caixa só pode ser gravada a laser e vem com um preço acrescido. Além disso, gravar numa superfície transparente que mostra designs complexos pode fazer com que o registo não seja percetível. A gravação a laser em metal, pela sua superficialidade, pode ser polida ou acabar por se perder com a utilização comum: pode ser uma vantagem ou uma desvantagem.

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Acerca da gravura em si, tente escolher um design e fonte simples e pensar numa ideia que os seus filhos e netos não tenham vergonha de usar como memória de família. Algo demasiado específico, como umas férias ou um lugar sem grande significado, pode fazer com que a referência se perca no tempo, perdendo o simbolismo.

A decisão de gravar passa então pelo tempo que pretende que este dure nas suas mãos e da sua família. Um relógio gravado pode-se tornar parte de uma herança, um troféu, uma pequena cápsula do tempo usável. A peça de relojoaria pode fazer parte de um compromisso entre o acessório e quem o usa, mas pode também ser entre quem oferece e quem recebe a peça gravada: uma prova de que o valor do relógio não é o mais importante naquela oferta, mas sim a relação que este simboliza.

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