Estilo / Relógios e Jóias

Grandes viagens, grandes exploradores, e os laços que unem a mais antiga manufatura de relógios a Portugal

A Vacheron Constantin tem uma longa relação com o nosso país, agora reforçada com a abertura da primeira boutique em Lisboa e por uma homenagem única em 266 anos de história: três edições especiais dedicadas a três portugueses.

Foto: D.R
02 de agosto de 2021 | Bruno Lobo
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Em 1854, um par de décadas após a Vacheron ter exportado os seus primeiros relógios para França e Itália, tinha início também a sua ligação com Portugal. Nesses tempos, a manufatura genebrina começou a "internacionalizar" a marca ¬ se é que então já se usava o termo. Barthélemy Vacheron, neto do fundador, fez uma parceria com François Constantin, um astuto homem de negócios que não hesitava percorrer o mundo em busca de novas oportunidades, e a marca que Jean Marc Vacheron tinha fundado um século antes ganhou um et Constantin no nome. Foi aos dois, já, que um tal de Henry Frot escreveu nesse ano, propondo-se a representar a manufatura no nosso país, e fazendo as primeiras encomendas. Na Suíça ainda guardam muita dessa correspondência e aceitaram abrir os seus arquivos para a MUST, que agora pode mostrar essas primeiras missivas.

As cartas focam-se naturalmente nos envios de mercadoria, mas Henry Frot não se furta, curiosamente, a vários lamentos contra a situação económica do país - confirma-se, como sempre vivemos neste estado de permanente ansiedade. Então, os viticultores sofriam com duas pragas: o ovídio, primeiro e sobretudo, logo seguido do míldio. Mal sabiam que o pior ainda estava para vir e só faltavam dez anos para chegar: a terrível filoxera.  Olivais e laranjeiras eram também fortemente atacadas por doenças e tudo contribuía para empobrecer uma economia de base eminentemente rural. Felizmente, tal como agora, a crise não foi o fator impeditivo para esta aproximação.

Foto: D.R

Pelas cartas, percebemos também como Portugal e Suíça estavam muito mais distantes nessa altura, obrigando os relógios a uma longa viagem antes de chegarem ao destino. Partindo primeiro para Marselha e atravessando praticamente toda a França, de costa a costa, com a maioria do caminho feito em barcos fluviais, ao longo do Sena. Passavam por Paris, a caminho de Ruão, na Normandia, e era aqui que apanhavam finalmente um vapor que os traria pelo oceano Atlântico até Lisboa.

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O espírito das viagens e da exploração fazem parte intrínseca do ADN da manufatura desde esses primeiros anos de François Constantin, e as viagens continuam hoje em dia, ainda que muitas vezes no tempo, como aconteceu agora nesta homenagem aos nossos grandes exploradores do século XV.

Métiers d’Art Homenagem aos Grandes Exploradores portugueses

Na última edição da feira Watches & Wonders, em abril passado, a Vacheron Constantin apresentou três modelos que ilustram na perfeição o know how da manufatura, "não só pelo intricado trabalho artístico aqui desenvolvido", explica-nos Matthieu Ferry, diretor-geral para Portugal, Espanha e Benelux, "mas também em termos de relojoaria, já que para abrir um espaço mais amplo para a expressão das artes manuais, foi necessário desenvolver uma nova forma de mostrar a passagem do tempo". Nestes relógios, a indicação dos minutos está encostada a uma das margens do mostrador, e não se move, deixando para as horas essa dupla função. Para o conseguir foi desenvolvido um calibre, 1120 AT, que incorpora uma nova roda de horas, com três braços, cada um deles sustentando quatro números horários, como se pode ver na foto:

Foto: D.R
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Este módulo permite que as horas percorram o mostrador de cima para baixo, atravessando o tal círculo fixo dos minutos…

Ainda assim, o que mais salta à vista é a incrível reprodução em esmalte miniatura Gand Feu do Atlas Millerde 1519, do qual se conserva uma reprodução em pintura no Museu de Marinha, em Lisboa. Cada mostrador exibe uma parte do mundo e as rotas marítimas exploradas, respetivamente, por Bartolomeu Dias, Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral. São verdadeiras obras-primas de perseverança, precisão e delicadeza, onde cada mostrador requer um mês de trabalho de um artesão, chegando a ir 11 vezes a cozer ao forno, a temperaturas entre os 800 e os 900°C. Qualquer deslize, por mais pequeno que seja, implica deitar fora semanas de trabalho…

Esta edição dedicada aos três exploradores portugueses completa uma série iniciada em 2004 e 2008, homenageando Fernão de Magalhães, Zheng Hué, Cristóvão Colombo e Marco Polo. Cada modelo terá apenas 10 exemplares, mas todos os 30 relógios já estão previamente vendidos, tal o sucesso entre colecionadores de todo o mundo. Aliás, apesar da marca não divulgar dados de clientes, podemos inferir que muito dificilmente algum modelo virá para Portugal. Há, no entanto, uma boa notícia, pois em setembro um destes exemplares poderá mesmo vir de viagem a Lisboa, para poder ser admirado ao vivo na nova loja - são as vantagens de se ter uma boutique em casa.

Foto: D.R
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Para a Vacheron, esta nova montra é como uma embaixada permanente em Lisboa, "o espaço ideal" revela-nos Matthieu Ferry, "para mostrar aos clientes aquilo a que apelidamos de Belle Haute Horlogerie (a Bela Alta Relojoaria). Lisboa é uma cidade chave para nós, não só pelos turistas, mas muito mais pelos clientes locais." E agora, mesmo com a pandemia, é muito mais fácil enviar relógios entre Genebra e Lisboa.

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