Esta é a história de um leilão. Ou melhor, é a história do leilão de um relógio que ainda não existe. Tudo vai começar com um passeio no Louvre para escolher a obra de arte que mais tarde será reproduzida no mostrador deste relógio. Depois também será possível eleger o material da caixa, disponível em platina, ouro rosa ou ouro branco, bem como gravar o fundo e selecionar a bracelete entre uma múltipla variedade de materiais e cores. O resultado final será um Vacheron Constantin único e irrepetível e a MUST foi conversar com o Diretor de Estilo e Tradição da marca genebrina, Christian Selmoni, para perceber melhor como tudo vai acontecer…
Trata-se de uma parceria inserida numa iniciativa "para ajudar uma nova área dedicada à educação cultural e artística do Louvre", explica-nos, "um leilão de um cariz iminentemente social", em que a totalidade das receitas será entregue ao museu. Nele vão participar várias "grandes maisons e até artistas", e a Vacheron Constantin "será a única casa de relojoaria presente". O leilão tem o nome de Bid for the Louvre e vai decorrer online, entre os dias 1 e 15 de dezembro, organizado pela Christie’s.
A originalidade aqui passa pelo facto de o relógio que vai a leilão ser um conceito e não o relógio propriamente dito. Ou seja, pessoas vão licitar a possibilidade de participar na execução da peça que compram. "O vencedor será convidado a participar em todas as fases iniciais do processo, nomeadamente no design e a sua transposição para o mostrador", para o qual contará com o apoio dos mestres artesãos da Vacheron Constantin (VC) e do próprio Louvre.
A aventura iniciar-se-á em Paris, durante uma visita privada ao Museu acompanhado pelo seu melhor especialista, "para eleger a obra que será reproduzida no mostrador, selecionada entre as pinturas e esculturas conservadas no Museu. Considerando a riqueza fenomenal deste acervo, decidimos selecionar pinturas, desenhos e esculturas. As possibilidades são ilimitadas, com uma única exceção: a Mona Lisa de Leonardo da Vinci. Possivelmente o quadro mais famoso do mundo e com direitos de reprodução de imagem muito limitados, o que explica a sua exclusão."
Uma obra prima no mostrador
Segue-se uma visita ao estúdio Les Cabinotiers, em Genebra, para conhecer os mestres relojoeiros e os artesãos esmaltadores e gravadores que vão trabalhar no desenho. É aqui que a VC desenvolve as suas peças mais exclusivas - incluindo o relógio mais complicado do mundo - e é aqui que o vencedor será envolvido no processo de criação e nas várias opções de personalização.
"Decidimos escolher esmaltagem, mais precisamente duas técnicas de esmaltagem muito antigas, o esmalte em miniatura e pintado a grisalha, por permitirem uma reprodução fiel de pintura, desenho e escultura. Mas o cliente terá ainda a possibilidade de escolher outro métier d’art, gravando algo no fundo do relógio."
A ligação entre a Vacheron Constantin e o Louvre tem crescido desde que a casa suíça realizou, em 2016, o restauro do relógio "La Création du Monde", uma obra-prima do século XVIII. Estas duas instituições são, na verdade, praticamente contemporâneas, tendo a VC nascido em 1755 e o Louvre uns anos mais tarde, em 1793. Partilham também um profundo respeito pela tradição das técnicas ancestrais, o que no caso da manufatura a leva a albergar debaixo do mesmo teto mestres relojoeiros, gravadores, esmaltadores, guilhochadores, engastadores e joalheiros… Serão precisamente alguns destes artesãos a fazer prova da sua mestria, desafiados a conseguir fazer, por exemplo, que a paleta de cores, depois de diversas passagens pelo forno a 800ºC (o processo de esmaltagem) respeite na íntegra a obra.
Todo o processo poderá demorar cerca de um ano. "Estaremos prontos para entregar o relógio ao fim de 9 a 12 meses de trabalho muito delicado", explica-nos ainda Christian Selmoni, mas neste artigo revelámos já alguns exemplos de como este trabalho se poderá desenrolar. No final, é certo que uma pessoa muito afortunada será o proprietário de uma peça única. "Tão única quanto a obra-prima que a inspirou."