Alex Bilmes é o diretor da Esquire inglesa, um jornalista cheio de espírito que também escreve textos sobre moda e com uma ironia elegante, o qual, há bem pouco tempo, deu este conselho a quem o lê: "É muito arriscado inspirarmo-nos no modo de vestir das estrelas de cinema." Escreveu uma grande verdade, mas não anunciou algo de novo. Eu sei disso, até porque, que eu saiba, nunca se publicaram na MUST os looks das celebridades masculinas para que os homens comuns as tentem imitar. É uma perda de tempo. E, além do mais, a pauvreté de luxe é algo que abomino. Nós, os comuns mortais, que não temos acesso às passadeiras vermelhas, às festas e às galas, apenas conhecemos os glitterati de longe, nas revistas, nas redes sociais ou na televisão. É tudo uma ilusão porque esses media selecionam as pessoas mais bonitas deste planeta que para essas ocasiões são vestidas por especialistas, já que na vida privada quase sempre têm um gosto muito duvidoso. Além disso, eles nunca repetem os looks que, da cabeça aos pés e tudo somado, corresponderão ao salário anual ilíquido de qualquer leitor que não ganhe o salário mínimo.
Bilmes escreveu aquela sentença por ter visto Brad Pitt num smoking da Brioni, no Festival de Cinema de Veneza de 2019, e traçou a analogia entre aquela estrela de cinema e ele mesmo, apesar de ter uma presença física agradável e um gosto a vestir impoluto. Só que Pitt é quem é e, sobretudo, como é (convenhamos que a idade só o favoreceu no talento, na aparência física e no gosto a vestir em público). Mas Alex Bilmes pecou por generalizar, já que algumas celebridades são uma poluição visual, mesmo que estejam calafetadas com marcas de luxo. Ser-se belo não basta para exibir-se um smoking. Pitt, ou melhor, quem o aconselha, não prescinde de um smoking preto (o ator apenas se mostrou num smoking com casaco branco em Sacanas sem Lei, de Quentin Tarantino). É clássico, é convencional e, nos tempos que correm, é "conservador". Mas é intemporal e é isso que importa. A regra básica é imutável: preto (o branco apenas é admissível em tom pérola), paletó (apesar de o smoking assertoado ser uma hipótese), justo, com dois bolsos laterais e um superior no lado esquerdo, duas aberturas traseiras, lapelas largas e sempre confecionadas em seda, ainda que o veludo nelas seja válido. E, last but not least, talhado por medida para que o corte seja impecável e para que assente como uma luva no corpo, mesmo que este não seja como o de Brad Pitt. Afinal, o smoking preto não é mais do que um fato de corte inglês (um paletó com duas aberturas traseiras) confecionado em tecido preto opulento. E essa afinidade com os ingleses tem a ver com quem o inventou, a acreditar nos historiadores da moda, pois foi Eduardo VII que, durante a visita oficial à Índia, mandou cortar as asas do seu fraque real por não suportar as altas temperaturas da então colónia britânica.
Os americanos adotaram-no e chamam-lhe tuxedo por a cidade homónima, situada nos EUA, os ter fabricado em massa. Os ingleses, mais refinados, apelidaram-no de smoking por esse casaco de noite ser usado, após ter terminado a refeição nos jantares sociais, pelos cavalheiros numa sala de fumo onde conversavam sobre mulheres, cavalos, carros e negócios, longe das legítimas que ficavam numa outra sala a falar das trivialidades da vida de então. Finda a conversa, os homens despiam o dito smoking, impregnado com o cheiro do fumo do charuto e regressavam ao convívio feminino com o casaco com que tinham jantado. De há uns anos a esta parte, o smoking ganhou cores exóticas e tecidos lavrados e até pode ser usado com jeans e sneakers. Don’t cal me old fashioned, mas não há nada melhor do que o smoking clássico (usado com uns sapatos a preceito e nisto poucos homens acertam) porque não passa de moda. Basta ver as fotografias de Fred Astaire num ou de Brad Pitt noutro.
A importância dos acessórios
Mas não basta ter as duas peças essenciais para que o look seja perfeito. As regras intemporais mantêm-se na camisa branca, lisa ou plissada na frente e sempre com os botões ocultos, no laço preto volumoso em seda e de preferência que permita fazer-se o nó e na faixa para envolver a cintura com o plissado virado para cima que permita ter um bolso para moedas ou para um bilhete de espetáculo. Pode optar-se por usar cinto (oculto pela faixa) ou suspensórios pretos. Last but not least, os sapatos que são quase sempre o "calcanhar de Aquiles" do look. Existem sapatos para smoking com ou sem atacador, de pele natural, de verniz, de seda ou de veludo, variando as cores. O convencional aponta para os de verniz preto e o modelo é o clássico com atacadores. Os sapatos que muitos dizem "ser de quarto", por serem fabricados em tecido com bordados no peito do pé ou não, devem ser usados com um smoking em casa quando se é o anfitrião de uma festa, ainda que alguma nobreza e certas celebridades os tenham popularizado nas cerimónias no exterior.
Se existe uma indumentária que demarca uma posição social, o smoking está no topo. Ainda assim, este fato masculino de cerimónia democratizou-se e popularizou-se. No final do ano passado, os smokings pontuaram nas montras das lojas de roupas para homens da capital, fossem elas de luxo ou de low cost. E isto é extraordinário para um país que nunca foi glamorizado e para uma época em que sair à noite vestidos a preceito parece ser impróprio e datado, por isso, "fora de moda". A esmagadora maioria dos smokings expostos eram pretos, pontuando um ou outro com o casaco grenat ou com padrão estampado.