Estilo / Beleza & Bem-Estar

O cientista que faz milagres pelos famosos

Como é que um académico de 60 anos de Leipzig se tornou a nova coqueluche das fashionistas? Elas juram que ele as faz parecer mais novas. Harriet Walker conversou com Augustinus Bader, o professor por detrás de uma embalagem de creme facial de 230 euros (são 9 euros por esguicho).

Foto: Stefanie Keenan/ Getty Images
11 de agosto de 2020
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Victoria Beckham acha que é "fabuloso" e a Vanity Fair descreveu-o como "uma máquina do tempo da vida real". Conheça o creme anti-rugas pelo qual as celebridades da Lista A estão dispostas a desembolsar 8 libras por esguicho. O website Net-A-Porter mal consegue manter os seus stocks e o produto vendeu mais de 4,7 milhões de libras em apenas dois anos.

Margot Robbie usa produtos de Augustinus Bader, Carla Bruni também. Rosie Huntington-Whiteley, Naomi Campbell e Yasmin le Bon são suas fãs. Beckham ficou tão obcecada que recrutou o criador para formular um creme hidratante para a sua própria gama.

Encontrei-me com o Professor Bader, diretor de biologia aplicada de células estaminais e tecnologia de células estaminais na Universidade de Leipzig, no Bulgari Hotel, um local reservado para os 0,01 porcento, em Knightsbridge, Londres, poucos dias depois de ele se ter sentado na primeira fila do desfile de Beckham na Semana da Moda, decorrida no passado mês de fevereiro.

O que pensam os colegas do académico alemão de 60 anos sobre os seus novos amigos famosos? "Ainda não lhes contei", diz, nervoso. "Disse-lhes que ia de férias".

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Mas eles e os seus alunos estão, certamente, cientes do sucesso que o seu creme facial de 205 libras [cerca de 230 euros] fez nas passerelles? "A maioria ainda não se apercebeu", responde. "A universidade é como uma aldeia. É um planeta diferente."

Neste planeta, o creme de culto reina como senhor supremo, havendo marcas de produtos dermatológicos capazes de cobrar o que lhes apetecer a um grupo de pessoas abastadas, que adoram banha da cobra, e estão desesperadas por fazer o tempo andar para trás. Tudo começou em 1991 com o relançamento do Crème de la Mer e o seu "caldo milagroso" de magnésio, kelp e vitamina B12 (uma embalagem de 500 ml custa atualmente 1.550 libras, cerca de 1775 euros), e continuou com produtos como o Prairie Cellular Cream, feito com "platina coloidal" (947 libras, cerca de 1084 euros, por 50 ml). Nos dias que correm, a Sisley, a Estée Lauder e a Lancôme ultrapassaram todas a barreira das 300 libras [cerca de 340 euros] com as suas poções ultra-exclusivas. A 205 libras por uma embalagem de 50ml, os produtos de Bader são praticamente uma pechincha.

À medida que conversamos, o Professor Bader compara o conceito por detrás do seu creme milagroso a um navio, conduzir em Nova Iorque, uma fotografia rasgada em 1000 pedaços, um cofre de banco trancado, uma orquestra, uma estação de bombeiros, uma macieira e a tocar trompa. Explicar incessantemente a complexa teoria epigenética a editoras de beleza transformou-o de cientista em gerador de símiles ambulante. Fico-lhe grata pela ajuda, mas sinto-me um pouco como Jennifer Aniston no seu anúncio "e agora um pouco de ciência". No final da entrevista, o meu rosto doi de tanto se contorcer.

Foto: Instagram @augustinusbader
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A única coisa que precisamos de perceber é, evidentemente, se funciona ou não.

Para mim, o momento de verdade incontornável não se deu com o desaparecimento da série de vincos na minha testa – embora esteja convencida de que vejo uma diferença minúscula passados dez dias a usar o creme de Bader – mas quando esfrego uma dose (talvez no valor de 20 libras) num eczema vermelho particularmente teimoso que me incomodava há meses. Desapareceu na manhã seguinte.

"A inflamação é um sinal positivo porque ativa as células estaminais para iniciarem o processo de reparação", explica Bader. "Aquilo que o creme faz é reparar o microambiente em redor da inflamação para que as células estaminais possam fazer o seu trabalho."

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As células estaminais podem separar-se e proliferar, bem como reparar danos. Se uma criança queimar a mão, as células estaminais chegam ao local do ferimento e reparam a pele. À medida que envelhecemos, porém, as nossas células estaminais não reagem de forma tão inteligente aos sinais. As cicatrizes não desaparecem tão depressa ou facilmente nos adultos como nas crianças porque os nossos sistemas estão mais velhos, mais lentos e mais desajeitados – razão pela qual ficamos com rugas.

Para explicar o envelhecimento, Bader usa como analogia um sistema de aquecimento que se avaria: o engenheiro especializado que é chamado para o reparar sabe o que deve fazer, mas não tem consigo as ferramentas necessárias.

"As suas células estaminais foram concebidas para criar a melhor pele possível", diz Bader. "Têm o knowhow do seu código genético, mas se não receberem o sinal do ambiente, nem sequer são usadas."

O creme de Bader, segundo o próprio, dá luz verde às células, usando para tal - vitaminas, lípidos, proteínas e aminoácidos de qualidade clínica. Tal como seguir uma dieta super saudável ajuda o organismo a funcionar no seu melhor, o creme gera, na pele, o ambiente perfeito para a regeneração, permitindo que as células estaminais "se esqueçam" de que estão a combater fogos noutros locais.

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Foto: Instagram @augustinusbader





Ele iniciou o seu trabalho de investigação há 30 anos, numa unidade de cuidados para pacientes com queimaduras graves na China, onde os pacientes eram tratados, com sucesso, com enxertos de pele de porco, mas ficavam com cicatrizes altamente visíveis. Ele quis saber por que razão o organismo regenerava uma ferida pequena, mas tinha dificuldades em lidar com uma maior, tendo em conta que o código genético e a programação das células é a mesma para cada ferimento.

"Por que haveremos de tratar isto a partir do exterior do organismo, em vez de a partir do seu interior?", diz, mencionando transplantes ou colonização de células estaminais em placas de Petri. "Já temos células estaminais suficientes – acrescentar mais é como pôr uma colher de água no oceano."

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Quer isto dizer que a sua investigação torna obsoletos os enxertos e os transplantes de pele? "Não. Dizer isso ofenderia muitas pessoas", diz. "Mas aquilo que estou a fazer vai contra a forma de pensar convencional."

Foto: Instagram @augustinusbader





Na verdade, vai tão contra que muitas pessoas se recusam a acreditar nele. O primeiro projeto de Bader foi um hidrogel médico para tratar queimaduras, que curava feridas em duas semanas e fazia as cicatrizes desaparecerem num ano.

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"Levei-o a 100 farmacêuticas para ver se queriam licenciar a tecnologia – nem que fosse de graça – mas ninguém queria desenvolver um tratamento para crianças queimadas."

Bader ofereceu um protótipo a uma modelo cuja carreira fora prejudicada por acne crónica. Ele diz que ela já não tem borbulhas e está a trabalhar novamente e mostra-me várias fotografias no seu telefone da pele dela antes, durante e depois de usar o creme ao longo de um mês. A diferença é semelhante ao uso de Photoshop.

"As pessoas disseram que era bom demais para ser verdade", diz, encolhendo os ombros. "Quase desisti. A minha mulher mandou-me beber um copo de vinho."

Foi então que ele conheceu o seu sócio, Charles Rosier, um banqueiro de investimento francês, que sugeriu que a sua investigação poderia ser mais adequada a um grupo demográfico diferente e mais fiavelmente rentável: adultos ricos e enrugados.

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"Os cuidados dermatológicos não têm nada em comum com o produto médico para além do conceito", diz Bader. "O nosso organismo é o melhor bio-reactor. Fazemos o trabalho sozinhos. O creme funciona em tantas pessoas, novas ou velhas, porque é extremamente personalizado."

Foto: Instagram @augustinusbader





Além disso, todos estes Dorian Grays com as carteiras bem recheadas estão a financiar a investigação do hidrogel original. "Começámos agora mesmo os ensaios clínicos", diz Bader com um sorriso.

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Sugiro que ele deve sentir-se bem com isso, talvez até orgulhoso? É aqui que a trompa é chamada para a conversa.

"Antes de querer ser médico, eu queria ser músico", diz-me. "Praticava cinco ou seis horas por dia. Mas nos concertos estava mais preocupado com aquilo que as pessoas pensavam do que com a música. É a mesma coisa agora – se gostarem do creme, eu fico feliz."

Volto a mostrar-lhe a minha mão curada. "Não é nada de especial", diz-me. "Só ajudei a sua pele a acalmar-se."

O que pensam os seus colegas sobre o seu sucesso? "Não lhes contei."

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Para saber mais consulte: augustinusbader.com

Exclusivo The Times Magazine/Atlântico Press
Tradução: Erica Cunha Alves

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