Um relatório da American Cancer Society, lançado a 17 de janeiro, traz boas e más notícias. Por um lado, menos americanos estão a morrer de cancro, resultado das campanhas antitabágicas, de mais rastreios e de estes começarem a ser feitos mais cedo. Por outro lado, a incidência da doença está a aumentar em indivíduos com menos de 50 anos. O relatório diz que "está a ocorrer uma transferência dos doentes mais velhos, para doentes de meia-idade". Entre as pessoas com mais de 65, pessoas entre os 50 e os 64, e pessoas com menos de 50, este último grupo "foi o único a experienciar um aumento da incidência de cancro" entre 1995 e 2020, acrescenta ainda o relatório, que foi publicado em CA: A Cancer Journal for Clinicians.
Sobre esta investigação, a American Cancer Society sublinhou que os ganhos que se fizeram com a redução de mortes por cancro estão a ser ameaçados com este aumento da doença em pessoas com menos de 50 anos, com especial relevância para o cancro cervical e o cancro colorretal. Este último é, de resto, neste momento, entre pessoas com menos de 50 anos, a maior causa de morte nos homens e a segunda maior causa de morte nas mulheres, atrás do cancro da mama. No final da década de 90, este cancro era a quarta causa de morte entre homens e mulheres no mesmo segmento etário.
À CNN, o médico William Dahut, chief scientif officer da American Cancer Society, disse o seguinte: "Estamos a ver os diagnósticos de cancro a movimentarem-se para as pessoas mais jovens, apesar da população estar a envelhecer e haver cada vez mais gente velha". Dahut confessou ainda que o cenário "está muito diferente do que era", acrescentando que "esta tendência entre os jovens adultos é aquilo que mais me faz coçar a cabeça".
E se, nos Estados Unidos, a recomendação é que se comece a fazer rastreios para o cancro colorretal aos 45 anos, a verdade é que estão a aparecer cada vez mais casos em pessoas ainda mais novas.
Os investigadores mostraram-se, também, preocupados com o impacto de um diagnóstico de cancro na vida de pessoas mais novas, com filhos pequenos e carreiras profissionais ainda muito activas e em ascensão. William Dahut acrescenta ainda que "pessoas mais jovens têm uma expectativa de vida mais longa, o que significa mais anos a sofrer com potenciais efeitos secundários dos tratamentos ou o aparecimento de segundos cancros".
Num artigo da revista Nature, um grupo de oncologistas sumarizou aquilo que o senso comum já nos diz serem os fatores de risco para estes diagnósticos em pessoas mais jovens: "a dieta ocidental, a obesidade, o sedentarismo e o uso de antibióticos – especialmente entre o período pré-natal e a adolescência" – devido às mudanças que causa no microbioma intestinal.
Outra preocupação da American Cancer Society é a continuação das disparidades entre americanos brancos, afroamericanos e povos nativos. Comparando com os brancos, as taxas de mortalidade são duas vezes superiores para cancro da próstata, estômago e útero nos afroamericanos, e duas vezes superiores para cancro do fígado, estômago e rins nos povos nativos americanos.