O consumo de álcool é uma prática socialmente aceite e integrada em várias culturas, mas as evidências científicas apontam para os seus riscos significativos, sobretudo na relação com o desenvolvimento de vários tipos de cancro. De acordo com especialistas, incluindo o cirurgião-geral dos Estados Unidos, Vivek H. Murthy, não existe uma quantidade de álcool completamente segura para o organismo humano, afirma num artigo do The Washington Post. O álcool está associado a sete tipos de cancro — como o da mama, colorretal, da boca e do fígado — e mesmo consumido de forma moderada, pode aumentar o risco de desenvolver estas doenças. Por isso, é importante reavaliar o que entendemos por "moderação" no consumo de bebidas alcoólicas, especialmente à luz dos dados que indicam que até uma bebida por dia pode ser suficiente para causar danos à saúde.
Estudos indicam que beber apenas uma bebida alcoólica por dia aumenta o risco de certos tipos de cancro. No caso do cancro da mama, por exemplo, beber entre uma e duas bebidas diariamente aumenta o risco em cerca de 4%, o que, numa análise individual, pode parecer pequeno, mas a nível populacional tem um impacto significativo. Dados do parecer do cirurgião-geral mostram que, para pessoas que consomem álcool diariamente, o risco absoluto de desenvolver cancro relacionado com o álcool ao longo da vida é de cerca de 11 em cada 100 homens e 19 em cada 100 mulheres. Estes números mostram que o impacto do álcool não deve ser ignorado, mesmo entre aqueles que o consomem de forma considerada moderada.
Embora as diretrizes atuais recomendem o limite de uma bebida por dia para mulheres e duas para homens, há um consenso crescente entre especialistas de que estas recomendações subestimam os riscos associados ao álcool. A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma categoricamente que não há uma quantidade segura para beber. Cada dose de álcool aumenta a probabilidade de o organismo sofrer danos, com um impacto cumulativo mais acentuado em pessoas que têm outros fatores de risco, como predisposição genética ou histórico familiar de cancro. Esta relação entre o álcool e o cancro torna-se ainda mais preocupante quando combinada com outros hábitos de vida prejudiciais, como o tabagismo ou a obesidade, que podem amplificar significativamente os riscos.
À medida que o consumo de tabaco diminui, os especialistas alertam para a crescente relevância do álcool como um fator de risco evitável para o cancro. William Dahut, diretor científico da American Cancer Society, destacou, no mesmo artigo, que as evidências científicas sobre esta ligação são sólidas e que é essencial que a população esteja informada sobre os perigos. Além disso, especialistas como Otis Brawley, professor da Universidade Johns Hopkins, sublinham que os danos do álcool não são apenas causados pelo consumo excessivo ou crónico. Mesmo o consumo esporádico ou em pequenas quantidades pode trazer riscos, sobretudo para aqueles que já enfrentam fatores de risco adicionais.
No final, a principal mensagem que emerge das investigações e recomendações é clara: quanto menos álcool, melhor. Esta conclusão pode ser difícil de aceitar numa sociedade em que o consumo de álcool é culturalmente valorizado, mas a evidência científica é inequívoca. Beber menos, ou até abster-se totalmente, é a escolha mais segura para preservar a saúde e reduzir o risco de doenças graves como o cancro.