O meu primeiro contacto com o mundo da odontologia cosmética deu-se graças à revista Style do The Sunday Times [para a qual o jornalista autor deste texto escreve] Pouco antes de ir para os Estados Unidos, em 2016, o então editor decidiu que eu precisava de uma mudança total de visual e enviou-me a uma magnífica dentista de Londres chamada Beata para que me colocasse coroas nalguns dentes e os branqueasse.
Nessa altura, para mim, ir ao dentista significava obturações dolorosas e sermões rigorosos sobre a utilização do fio dental. Mas o branqueamento foi decisivo. O meu esmalte passou da cor ocre à cor marfim e poupei-me à indignidade de chegar aos EUA com uns dentes à Austin Powers, o que teria significado um comboio a alta velocidade até ao reino dos celibatários involuntários. Só Deus sabe o que Beata fez, mas o excelente branqueamento feito em 2016 permaneceu e tive o privilégio de poder estar junto de vedetas de Hollywood sem problemas em abrir a boca e de cabeça erguida.
Isto porque, quando toca ao mundo do espetáculo – de Tom Cruise a Zac Efron, passando por Miley Cyrus e Catherine Zeta-Jones –, os falsos dentes absurdamente brancos e super direitos são parte integrante da vida, tal como as más audições ou os affairs no ecrã. E nos últimos anos eles foram muito além de Hollywood, à medida que a caça ao sorriso perfeito do Instagram (Instasmile) alimentou uma forte procura pela porcelana.
As reluzentes facetas brancas são também uma componente chave do crescimento da odontologia cosmética no Reino Unido – que, acredite-se ou não, parecem estar a superar os Estados Unidos. Segundo um inquérito realizado no ano passado pelo RealSelf, um website de marcação de consultas com especialistas em cirurgia plástica e tratamentos estéticos, 43% dos 1.000 britânicos inquiridos queriam melhorar os seus dentes com recurso ao branqueamento, facetas dentárias ou Invisalign [alternativa transparente dos aparelhos de correção dentária]. Apenas 36% de norte-americanos disse querer o mesmo.
Mas mesmo numa altura em que a odontologia cosmética está inundada de Instagrammers ansiosos pela perfeição de um branco perolado, há um profissional de topo deste setor que está numa onda diferente: rejeitar a ideia de que ter dentes com um impecável branco-coco é o padrão a que todos deveríamos aspirar. É altura de conhecermos o homem que está a "desbranquear" e a "desendireitar" os dentes dos ricos e dos famosos: Jon Marashi
Marashi trabalha neste ramo há 20 anos e é o clássico dentista das estrelas, tendo sido alcunhado, pela Cher, de "Tom Ford da odontologia cosmética". Uma das paredes do seu gabinete em Los Angeles está repleta de mensagens de agradecimento e de molduras com capas de revista onde os protagonistas são os seus clientes, como Matt Damon, Renée Zellweger, Tom Hanks, Ben Affleck, Rooney Mara e muitos outros. É uma grande parede. Justin Timberlake também lá consta e assinou a sua fotografia com a melhor piada sobre anestesias que certamente ouvirá nos próximos tempos: "Querido doutor, não consigo sentir a minha cara quando estou consigo".
Marashi tem um maxilar evidenciado e queixo anguloso, um ar que transmite seriedade, com o cabelo penteado para trás. Gosta de skate e casacos de veludo. Os tratamentos cosméticos enriqueceram-no, mas ele lidera a defesa de uma abordagem mais natural e, em última análise, contra as próprias facetas dentárias. "O seu sorriso deve parece algo com que já nasceu", diz-me, ao telefone, de Los Angeles. "Não deve ser uma coisa que ofusca o seu rosto".
Quando falamos de cirurgia plástica de topo, sublinha Marashi, um observador causal nem sequer consegue perceber que alguém optou por esse procedimento. Com os dentes também tem de ser assim. Consequentemente, diz que os famosos que normalmente o procuram estão cada vez mais a optar por algo menos cintilante. A maior parte das suas consultas são agora de reabilitação dentária, muitas das vezes desfazendo trabalhos anteriores com facetas. "O pêndulo inclinou-se demasiado numa determinada direção", salienta. "Agora as pessoas estão a observar os seus sorrisos e a pensar: em que raio estava eu a pensar?"
O trabalho de reabilitação é muito delicado. Os clientes chegam nervosos por terem de passar por um segundo procedimento. Marashi pede fotografias de como os clientes eram antes de terem feito o procedimento, e depois remove cuidadosamente as facetas enquanto observa por entre um microscópio cirúrgico. Em seguida cria um protótipo temporário do novo sorriso e diz aos seus clientes que o testem durante um dia ou dois.
O seu objetivo, conta, é o "imperfeito perfeito". Mesmo num dentista normal – esquecendo os preços de Marashi –, as facetas em porcelana podem custar para cima de 500 libras (perto de 551 euros) por dente. E qual é a utilidade de gastarmos todo esse dinheiro para ficarmos idênticos às outras pessoas? "Quando um paciente me pergunta se posso pôr um dente um pouco mais torto, isso faz-me sorrir. Gosto de colocar um pouco de personalidade no dente. Gosto mesmo muito de o fazer", diz Marashi.
Marashi acredita que a preferência pela odontologia cosmética mais ligeira e por um look menos artificial está a começar a ser filtrada por Hollywood. "As redes sociais começaram a centrar-se nos esteróides" [cujo abuso pode ser problemático para a saúde dentária], diz Marashi, recordando uma inundação de potenciais clientes, há alguns anos, que lhe pediam facetas dentárias extremamente brancas. "Mas agora as pessoas estão mais naquela de dizerem: ‘mantenha-me longe disso’".
A verdade é que a maioria das pessoas não precisa de facetas dentárias, sublinha Marashi. As melhorias a nível dentário são como qualquer outro aspeto dos cuidados de beleza: vale a pena, se for com moderação, mas é prejudicial em excesso. "Nunca achei que fosse boa ideia estar num dos lados do espectro dentário – demasiado perfeito ou demasiado desagradável", refere. "O melhor lado onde se estar é, presumivelmente, algures no meio". Sendo eu uma pessoa cujo brilho dentário artificial está por fim a começar a desvanecer-se, sinto-me inclinado a concordar.
@joshglancy drmarashi.com
Créditos: Josh Glancy/The Times
Tradução: Carla Pedro