O que têm em comum Cristiano Ronaldo, Samuel Eto’o, Matteo Ferrari, Iker Casillas, Thierry Henry, Mario Balotelli, Danny Welbeck, Michael Essien, Raul Meireles ou Didier Drogba? Um homem bem advertido do universo futebolístico diria que se trata de uma lista com alguns dos gigantes do futebol e outro que dominasse a arte de bem vestir exprimiria que esses são alguns dos jogadores mais bem vestidos da praça – ou deveríamos antes dizer do relvado – Ambos estariam certos.
Na verdade, esses nomes constam de uma lista publicada pela Vanity Fair americana, em 2013, numa altura em que a revista elegia os dez jogadores de futebol mais bem vestidos do mundo. E não seria a única a trazer para o mundo do glamour os campeões da bola. Também a GQ inglesa nomeou Xabi Alonso, na altura estrela do Real Madrid, como um dos dez homens mais elegantes. Para não esquecer Josep Guardiola que também foi referenciado. De facto, longe vai o tempo em que o novo-riquismo definiu o estilo de um jogador de futebol. Relembramo-lo: os óculos de sol de tamanho XXL de Dolce & Gabbana; as calças Armani; os boxers Calvin Klein à vista; os cintos com fivelões; as camisas pretas demasiado cintilantes; os logos por todo o lado... Tudo a gritar "Olhem para mim que eu sou uma ‘estrela’ e tenho dinheiro". E não seria de estranhar que esta fase tivesse tido os seus momentos áureos.
Esses rapazes bem-parecidos e de corpos esculturais eram os mesmos meninos que cresciam na rua, que jogavam à bola entre a vizinhança e que, na falta dos videojogos, cresciam com ginga no pé, acabando, para sua grande surpresa, por se tornar ricos e famosos. Seria natural que o dinheiro falasse mais alto e que os grandes carros e os diamantes nas orelhas definissem o tal ‘jogador da bola’. Mas os tempos mudaram, os deuses do relvado aprimoraram-se e, muito graças à Moda, o futebolista deixou de ser apenas ‘o jogador da bola’. Do ídolo em campo ao sex symbol, passando pelo homem de negócios bem-sucedido e pelo pai de família estruturado, esta é a imagem do novo profissional de futebol que os homens comuns admiram e que as mulheres desejam. A isto junta-se bom gosto a vestir e um estilo próprio (goste-se dele ou não). No caso português, existem muitos exemplos de que destacamos Cristiano Ronaldo, José Mourinho ou André Villas-Boas. Antes deles, Humberto Coelho, Luís Norton de Matos ou Francisco José da Costa, vulgo ‘Costinha’, defenderam a palavra ‘Estilo’ de forma correctíssima.
Nos começos da década de 70, e se a memória não nos confunde, Humberto Coelho usou um casacão de peles sobre fatos de bom corte, exalando masculinidade, tal como fizeram, nessa década, os actores Richard Burton e Peter Sellers, os músicos Ringo Starr, Miles Davis, Mick Jagger e Jim Morrison ou os futebolistas George Best e Joe Namath, seguindo uma tendência que, em Portugal, poucos (ou nenhuns) arriscariam no país que éramos. O seu estilo era tal que lhe chamavam o ‘Quarto Bee Gee’ por analogia a George Best ter sido apelidado de o ‘Quinto Beatle’. Até aos anos 60, com toda a revolução também nos costumes, a Moda nunca esteve directamente associada a futebolistas, mas também não o estava aos homens. Foi a partir daí que o sexo masculino ousou ser trendy (a abertura fez-se nos anos de 1950, no pós-guerra). O caso mais extraordinário entre nós, num então Portugal provinciano e moralista, passou-se em 1978 com Vítor Baptista, jogador do Benfica, quando num jogo contra o Sporting e após ter marcado um golo, mandou parar tudo e todos, durante cinco minutos, para procurar o brinco que havia perdido durante os abraços dos festejos com os colegas. O brinco, que usava na orelha esquerda, nunca apareceu. Se viajarmos para lá das nossas fronteiras, também a beleza em campo salta à vista. A começar por David Beckham, acerca de quem se referiu o ex-futebolista George Best: "Não chuta com a esquerda, não sabe cabecear, não sabe driblar e não marca muitos golos. Fora isso, ele é bom."
O Futebol e a Moda
Embora o acto de idolatrar jogadores de futebol tenha mais expressão nos dias de hoje, o culto dos atletas já vem da Grécia Antiga. De acordo com a filosofia de Platão, esse era o arquétipo de Beleza. No domínio do Futebol, porém, até à década de 1990 os jogadores raramente eram vistos como homens de bom gosto. Os mais famosos vestiam-se relativamente bem para os padrões masculinos da época, mas foi a partir do novo milénio que eles começaram a vingar nas listas dos mais bem vestidos (apesar de as mesmas nunca serem unânimes) e a surgir em campanhas para grandes casas da moda. Não é pequena a lista de futebolistas que posaram, até não há muito tempo, em lingerie masculina e justa para campanhas de marcas internacionais. No passado, isso seria impensável, tal como o corpo musculado, bronzeado, depilado e tatuado ou as sobrancelhas tratadas. Ainda assim, e sem tudo isso, destacou-se George Best, uma estrela pop com um estilo de vida desbragado.
Entretanto, numa nova era que teve início nos anos 90, começaram a sobressair jogadores que se distinguiram pela boa compleição física, sendo desejados pelas mulheres e pelas marcas comerciais: Del Piero, Hidetoshi Nakata, Gianluca Zambrotta, Juan Matta, Sergio Ramos, Antonio Nocerino ou Andrea Pirlo... Muito antes deles destacaram-se Pelé (para uns o melhor futebolista do mundo e o mais bem vestido), Johan Cruyff, Gunter Netzer, Shep Messing, Lev Yashin ou Giuseppe Meazza. A relação amorosa assumida entre a Moda e o Futebol começou, de forma oficial, com David Beckham a posar para Armani em 2008, numa campanha de underwear (e, mais tarde, para a H&M). Ainda para a Armani posaram Cristiano Ronaldo, Luís Figo, Thierry Henry, Christian Vieri, Fabio Cannavaro e Kaká. Mas a Dolce & Gabbana foi mais longe, investindo em todos os jogadores da selecção italiana inteira num único shot. A Adidas, marca que faz todo o sentido neste contexto, apostou em Beckham, em Kaká e em Lionel Messi, entre outros, na defesa do aclamado slogan: "Impossible is nothing." A par da Moda, também a relação com a Beleza deu uma volta de 180 graus. Com o fim da era dos homens peludos começaram a surgir os deuses depilados e sempre viris. No Futebol, relembramos a imagem do jogador que levanta a camisola do equipamento numa correria desenfreada em modo de festejo. O que se vê? Abdominais perfeitos num six pack liso e reluzente. Encheram-se os ginásios, as depiladoras multiplicaram-se e o futebolista embelezou-se. De menino do bairro a deus do estádio. Numa só vida.