Num dos três dias de prova – o curso tem três anos letivos – onde há exames teóricos e práticos, Tiago Macena teve de provar 36 vinhos todos diferentes, sem qualquer indicação, e acertar, entre outras questões, na origem, na casta e no ano. As provas teóricas incluem viticultura, enologia, vinificação, negócio e assuntos contemporâneos.
A que horas se costuma levantar?
Normalmente entre as 6:45 e as 7:00.
O que costuma refletir/ponderar/pensar nos primeiros minutos acordado?
Nos primeiros minutos, em nada. Fico num vazio confortável. É o exercício ou um duche que me acorda. Depois visualizo as minhas tarefas do dia e faço ajustes ao plano diário, se necessário.
Qual é a sua rotina quando se levanta?
Lavo a cara, depois faço algum exercício físico, nem que sejam só 10 minutos (não é sempre, mas é frequente) e preparo o pequeno-almoço da família.
Que tipo de pequeno-almoço costuma tomar?
Café com leite e pão com manteiga. Uns minutos antes de sair, um café expresso.
Costuma haver algum tipo de atividade antes do trabalho?
Há sempre alguma atividade logística, partilhada com a minha mulher – passear a cadela, garantir que está toda a gente pronta para sair de casa a horas e levar as crianças à escola.
Qual é o seu trajeto diário? Como o faz? A pé, automóvel, transportes…
O meu trajeto diário nunca é igual. Depende onde vou estar em cada dia. Na maioria das vezes, o meu dia começa em Viseu. Tendo a minha casa como base, posso daí partir para a adega da No Rules Wines, em Nelas, ou para as vinhas mais próximas. Tendo de sair de Viseu, normalmente faço-o de automóvel, extraordinariamente, e se o destino o permitir, uso o autocarro. Se a manhã começar próxima de Viseu, fico a trabalhar a partir do escritório, deslocando-me a pé.
Tem algum tipo de preparação prévia para o trabalho?
Sim, planear o dia seguinte, sempre no dia anterior ou uns dias antes. Dado que, como disse, o meu dia pode começar com uma reunião no escritório, na adega ou na vinha, é fundamental este planeamento para conseguir dar resposta a qualquer desafio que o dia possa trazer.
A que horas começa a trabalhar?
A alegria da diversidade de tarefas implica ter como certa a incerteza do arranque. Em dias padrão começo pelas 8:30, em dias extraordinários posso começar mais cedo para me deslocar para alguma adega ou vinha mais longínqua. Felizmente, tenho desafios profissionais desde o Douro Superior (No Rules Wines), ao interior do Alentejo (sub-região Granja-Amareleja, com a Adega Marel), passando pela costa de Porto Covo (Alma do Mar), tendo por base o Dão em Nelas, Vila Nova de Tazem ou Oliveira do Hospital (No Rules Wines). Dias diferentes trazem arranques diferentes.
Quais são as suas principais tarefas e responsabilidades no trabalho?
A principal tarefa, comum a qualquer uma das responsabilidades que assumo profissionalmente, é fazer acontecer, tendo sempre vinho disponível para o mercado. Assumir que os processos de adega são feitos, que os vinhos estão bem, que os engarrafamentos acontecem, que a vinha vai evoluindo bem. Não podendo esquecer, claro, o acompanhamento técnico/comercial das equipas que vendem os vinhos e também a formação de equipas no que respeita a prova de vinhos ou apresentação de vinhos a clientes finais.
Como gere o seu tempo?
A gestão do tempo tem de contemplar a necessária e obvia necessidade de executar as tarefas profissionais. No tempo alocado às tarefas profissionais tenho tido, e ainda vou ter, que reservar espaço para a minha missão junto do "Institute of Masters of Wine". Atualmente reservo tempo para fazer o meu trabalho de pesquisa, que me permitirá terminar este caminho por forma a obter as almejadas duas letras MW. Obviamente que nesta gestão de tempo não me posso esquecer da necessidade de tempo de qualidade com a minha família e também do tempo de descanso.
Como lida com a pressão e o stress?
Procuro fazer pausas, respirar fundo e acompanhar o plano de trabalho traçado para evitar ao máximo situações de desconforto por pressão de trabalho. Nem sempre é possível… em alternativa, nestas situações profissionais de tensão, a solução que procuro é recorrer às equipas de trabalho para que, como um todo, consigamos ajustar o bloqueio que gera pressão e stress.
Qual é a parte favorita e menos agradável do trabalho e porquê?
Para mim, as tarefas profissionais com que menos gosto de lidar são todas as que implicam burocracia. O negócio do vinho, felizmente, é muito regulado. Com uma regulação apertada, vêm normalmente tarefas documentais robustas, que procuro, sempre que possível, delegar a alguém da equipa ou reunir esforço conjunto com alguém que tenha esse talento mais natural para que consigamos avançar.
Tem uma equipa a trabalhar consigo? Como gere a comunicação com eles?
Felizmente sim, muitas equipas com diferentes tarefas em diferentes projetos e com quem procuro sempre ter uma comunicação diária. Esta comunicação nem sempre é pessoal, dada a geografia, pelo que o telemóvel ou as plataformas de "e-meeting" são também ferramentas de trabalho diárias. Procuro contactos frequentes e informais, evitando a formalidade de reuniões, para fazer avançar as várias frentes que normalmente tenho abertas.
Costuma fazer pausas no trabalho? Para?
Sim, pausas para respirar, para mudar de tarefas e projetos. Algumas vezes, pausas para exercício físico, junto à hora de almoço ou ao final do dia.
Interrompe o trabalho para almoçar? O que costuma comer e onde?
Interrompo sempre para almoçar, sendo que alguns almoços são frequentemente de trabalho… dada a natureza da minha atividade, a refeição é um local de eleição para apresentar vinhos, falar sobre eles, explicando-os e experimentando-os no "palco" de eleição: a mesa. Sempre que possível como em casa, mas é um momento de refeição raro. A maior parte das vezes almoço em restaurantes diversos, dependendo de onde me encontro.
Como lida com eventuais críticas e elogios ao seu trabalho?
Procuro manter sempre uma reação natural e humilde, quer no elogio quer na critica menos abonatória, sabendo que é uma questão profissional, não pessoal. Na minha profissão é frequente a critica positiva ou negativa, o que é ótimo, porque os clientes dos nossos vinhos são muitos e variados. Além disso, em enologia o nosso trabalho com o vinho prolonga-se frequentemente no tempo. Um vinho engarrafado hoje pode só vir a ser consumido daqui a 5, 8, 10 ou mais anos. Pelo que o efeito num consumidor possa frequentemente vir durante esse período, tendo uma exposição mais prolongada. Assim, aceitar as críticas entendendo-as sempre como oportunidades de melhoria, é fundamental.
O que diria sobre a ideia que as pessoas com quem se relaciona profissionalmente têm de si?
Espero, e creio, que têm a ideia de um profissional multifacetado, capaz, próximo e humilde.
Ao longo do dia dá importância às redes sociais?
Depende dos dias, mas procuro dosear a minha atenção às redes sociais para momentos pré-estabelecidos, final da manhã e final do dia de trabalho. É muito fácil ficar absorvido por tantos estímulos que as redes sociais permitem… as notificações estão há muito desligadas para evitar a tentação de divagar no "scroll" do ecrã.
Tem hobbies ou atividades que faz regularmente?
Sim, atividade física que procuro variar entre corrida e pilates. Outra atividade de que gosto muito é de ler sobre temas não relacionados com vinho.
A que horas costuma terminar a atividade profissional?
Tento, por norma, terminar pelas 18h30. Mas depende sempre do local em que me encontro e das tarefas que estou a executar. Não há rotina…
"Leva" trabalho para casa?
Muitas vezes levo, em particular amostras de vinho, para provar com a minha mulher. Ouço a opinião dela sobre os meus vinhos com atenção, porque é uma provadora experimentada e atenta e é para mim importante ter uma opinião válida, que não a minha.
Costuma conversar com alguém sobre a sua atividade no final do dia?
Sim, mais uma vez, a minha mulher. É a minha confidente, partilhamos os desafios, venturas e desventuras de cada dia.
Costuma viajar com frequência nas suas atividades profissionais?
Sim, viagens entre vinhas e adegas ao longo do país são frequentes. Pontualmente, preciso também de viajar internacionalmente em trabalho para acompanhar um distribuidor de algum dos vinhos em que participo ou para apresentar formações em prova, ou sobre os vinhos nacionais além-fronteiras.
Há muita diferença entre os dias da semana e os fins de semana?
Há. Nem sempre o sábado é dia de descanso. As manhãs de sábado são excelentes momentos de prova em adega, sossegado e sem a pressão do telemóvel. O domingo tende a ser sempre um dia de descanso total passado em família.
Quais são os seus hábitos de jantar? Horário e exemplo de menu?
O jantar, tal como o pequeno-almoço, sempre que possível, fazemos em família. O hábito de jantar começa na preparação, normalmente em família, cozinhando, preparando a mesa. Há dois momentos regulares: a sopa no início da refeição e a fruta, no final. O prato varia com muito maior frequência ao sabor do tempo disponível para a preparação e do apetite das crianças. O horário tende a ser entre as 20h30 e as 21h00.
O que faz antes de dormir?
Depois de jantar, há o ritual de acalmar as hostes familiares, ajudando na preparação para o sono das crianças e depois vario entre uma série ou um livro para desligar.
A que horas se costuma deitar e quantas horas dedica ao sono?
Frequentemente entre as 23:30 e as 00:00, durmo normalmente 6:30 a 7 horas.
Como mantém o equilíbrio entre sua vida pessoal e profissional?
Respeitando o espaço de ambas as partes, fazendo por cumprir os momentos pessoais – entre família e amigos, sem a interrupção do email ou da chamada de alguém. Ocorrendo o inverso, quando é momento de trabalho, focado e fazendo cumprir a tarefa de forma a estar livre no momento previsto.
Vê-se a ter outra profissão?
Na minha profissão, já tenho muitas profissões. A enologia é mais do que estar dentro de paredes da adega. Vou da vinha à adega e ainda passo pelos locais de consumo dos vinhos. São dias desafiantes, que podem começar com botas resistentes para estar confortável na vinha e na adega e acabar de sapatos num restaurante onde temos a expectativa de acompanhar o nosso vinho. Tenho a sorte de trabalhar numa atividade que me permite diversidade de tarefas e desafios sem uma rotina muito fixa. Não me vejo a fazer outra coisa.
O que mais gosta e menos gosta na sua profissão?
A diversidade de tarefas, sem dúvida. O que menos gosto é da carga burocrática que me custa a acompanhar. Mas fazendo com um sorriso no rosto, tudo parece melhor. Sem dúvida, que o que me dá mais prazer é poder criar, como é o caso destes vinhos que temos vindo a lançar na No Rules Wines, os "vinhos sem regras" que me têm permitido explorar o melhor do Dão usando o melhor de outras regiões. Acredito sinceramente que é e vai continuar a ser um projeto vínico disruptivo. O Terracota do Dão feito nas talhas do Alentejo… ou a gama do Código que apresenta vinhos mais requintados e extremamente desafiadores.