Não são os 25 anos do Grupo JPR ou os mais de 40 anos de enologia do pai de João Maria que encerram a ligação da família ao Alentejo. A história vem do Marquês de Borba e de outras ligações que o filho do produtor e enólogo tem agora a responsabilidade de preservar e aperfeiçoar.
A que horas se costuma levantar?
Por norma, levanto-me às 7 da manhã.
O que costuma refletir/ponderar/pensar nos primeiros minutos acordado?
Tento organizar mentalmente o meu dia. Nem sempre acordo no mesmo local. Por vezes é em casa, Estremoz, mas muitas vezes estou fora, durmo mais perto de outras adegas do grupo, ou fora de Portugal, em reuniões comerciais ou em apresentações de vinhos.
Qual é a sua rotina quando se levanta?
Se estou em casa, gosto de tomar o pequeno-almoço em família.
Que tipo de pequeno-almoço costuma tomar?
Em casa, é raro faltar uma torrada de pão alentejano. O dia também começa com um café expresso.
Costuma haver algum tipo de atividade antes do trabalho?
Se tenho de ir para longe, gosto sempre de ir a ouvir podcasts no carro, especialmente sobre política ou sobre história.
Qual é o seu trajeto diário? Como o faz? A pé, automóvel, transportes…
Vou de carro para o trabalho. Vivo no centro da cidade de Estremoz e a adega ainda fica a 10 minutos, mais ou menos 5 quilómetros de distância. Não existem transportes públicos e, além disso, gosto de aproveitar a ida para o escritório para passar nas vinhas onde o pessoal está a trabalhar.
Tem algum tipo de preparação prévia para o trabalho?
Gosto de acompanhar os trabalhos no campo e ver como estão as vinhas antes de começar propriamente o trabalho "dentro de casa".
A que horas começa a trabalhar?
Faço por chegar à adega por volta das nove. Não quer dizer que, antes disso, não tenha já despachado algumas chamadas ou não tenha reunido com a equipa do campo.
Quais são as suas principais tarefas e responsabilidades no trabalho?
A principal responsabilidade que tenho é a gestão das operações no campo e na adega (no departamento de enologia). O grande objetivo é que exista uma boa sintonia e articulação entre os dois. Se o trabalho do campo for bem executado (e as condições assim o permitam), o trabalho dentro da adega é sempre mais simples. Coordeno ainda as operações de produção da aguardente – a CR&F, e faço parte da Comissão Executiva do Grupo João Portugal Ramos. Por último, e como parte de uma empresa familiar, faço também muito trabalho comercial. Estamos numa área de negócio em que a presença da família do produtor é muito valorizada. Além de que, só tendo este contacto constante com os mercados, nos podemos manter a par das tendências de consumo.
Como gere o seu tempo?
Entre diferentes adegas – principalmente a adega Vila Santa em Estremoz, mas também vou com frequência à Duorum, em Vila Nova de Foz Côa. É rara a semana em que não tenha uma ou outra reunião em Lisboa e, como já disse, acabo por viajar bastante, não só dentro, como fora de Portugal. Não tenho, por isso, uma agenda estanque. Tenho sim tarefas que encaixo no meu calendário como por exemplo a prova e seleção semanal de diferentes lotes, em conjunto com o meu pai e restante equipa de enologia, uma ida por mês ao Douro...
Como lida com a pressão e com o stress?
Por norma, sou uma pessoa calma. Não sei se é de ter crescido no Alentejo, se faz mesmo parte de mim. Tenho essa sorte. E, por isso, acabo por não me deixar consumir muito com agendas cheias, viagens consecutivas ou caixa de email cheia.
Qual é a parte favorita e menos agradável do trabalho e porquê?
A parte preferida é, sem dúvida, o contacto constante com o campo e a criação de vinhos. A parte que menos gosto são as viagens.
Tem uma equipa a trabalhar consigo? Como gere a comunicação com eles?
Falo diariamente com a diretora de produção do Grupo, com o diretor de viticultura em Estremoz e com o diretor de operações no Douro. Depois cada um deles trata diretamente com as respetivas equipas. Falo também muito regularmente com o meu pai, ao lado de quem trabalho diariamente, e com a minha irmã Filipa, sobre temas de gestão e temas comerciais. Mas convém lembrar que estamos numa empresa familiar com perto de 150 pessoas. Posso ter mais contacto com as equipas diretamente ligadas ao campo e à produção, mas, no final do dia, a "minha" equipa são estas 150 pessoas.
Costuma fazer pausas no trabalho? Para?
Gosto sempre que posso de ir dar uma volta pela adega a meio do dia. Acompanhar a linha de enchimento, falar com a equipa de expedição e ver o trabalho dos adegueiros.
Interrompe o trabalho para almoçar? O que costuma comer e onde?
Se estou em Estremoz, almoço todos os dias na Adega. Mas é rara a vez que esta "pausa" de almoço seja realmente pausa. Acabamos por ter praticamente todos os dias algum cliente, parceiro, fornecedor ou mesmo amigos de visita. Temos a vantagem de ter o enoturismo da Adega Vila Santa aberto todos os dias e, por isso, um chefe sempre à disposição. Pratos típicos alentejanos que são mais refinados ou mais "castiços" dependendo do dia e da vontade do freguês.
Como lida com eventuais críticas e elogios ao seu trabalho?
Com escuta ativa, obviamente. Pois, muitas vezes, esses elogios ou críticas são o que definem o sucesso ou insucesso de um vinho, ou de uma marca. Veja-se o exemplo de Marquês de Borba. Foi uma critica internacional em 1998, sobre o Marquês de Borba Reserva 97, que fez da marca o que ela é hoje. Mas, para ser sincero, ultimamente também faço um esforço por filtrar alguns comentários. Como enólogo, por mais que me digam que gostam de um vinho assim ou assado, eu tenho de acreditar e manter o estilo dos nossos vinhos.
O que diria sobre a ideia de que as pessoas com quem se relaciona profissionalmente têm de si?
Sou uma pessoa prática. Acho que as pessoas com quem trabalho valorizam isso em mim.
Ao longo do dia dá importância às redes sociais?
Nada. Sou até um bocado excluído. Mas o marketing faz um resumo mensal das principais publicações e métricas e esse resumo gosto de ver.
Tem hobbies ou atividades que faz regularmente?
Gosto muito de passear no campo com os meus cães e de caçar.
A que horas costuma terminar a atividade profissional?
Se não tenho nenhum jantar, chego a casa por volta das 19 horas.
"Leva" trabalho para casa?
Levo. Vinhos que me apetece provar com mais calma em casa, por exemplo. Para não falar de jantares de trabalho que, neste negócio, acontecem com alguma frequência.
Costuma conversar com alguém sobre a sua atividade no final do dia?
Vivo perto do meu pai. Acabamos por jantar algumas vezes, ou em casa de um ou em casa do outro, e é impossível não falarmos um bocadinho sobre o negócio. Nem que seja bebermos um vinho e comentá-lo.
Costuma viajar com frequência nas suas atividades profissionais?
Acompanho muitas apresentações dos nossos vinhos na Europa, no Brasil e nos Estados Unidos.
Há muita diferença entre os dias da semana e os fins de semana?
Se não estou em viagem, sim. Durante o fim de semana tenho mais tempo com a família e com os amigos.
Quais são os seus hábitos de jantar? Horário e exemplo de menu?
Quando acabo o dia cedo, gosto muito de jantar com os meus filhos. Nesses dias, opto sempre por jantares mais leves.
O que faz antes de dormir?
Gosto de ver um bocado de notícias e uma série com a minha mulher.
A que horas se costuma deitar e quantas horas dedica ao sono?
Tento sempre dormir oito horas por noite, mas, com filhos, nem sempre é garantido.
Como mantém o equilíbrio entre sua vida pessoal e profissional?
Tenho a sorte de fazer o que gosto. Mesmo que desequilibrada, se for à volta de vinho, parece uma vida equilibrada. E claro, viver no campo ajuda muito a isso.
Vê-se a ter outra profissão?
Não. Foi um projeto que vi crescer desde que nasci. Sempre soube que queria fazer parte dele.
O que mais gosta e menos gosta na sua profissão?
O que mais gosto é, sem dúvida, de idealizar os vinhos, desde o campo até à adega. O que menos gosto é a parte burocrática a que o setor vitivinícola está sujeito.