Conversas

Reverter o relógio biológico é possível?

Especialista em antienvelhecimento e em medicina integrativa e regenerativa, Graham Simpson questiona as recomendações da American Heart Association e defende que a dieta cetogénica tem o potencial para salvar vidas.

Reverter o relógio biológico é mesmo possível? Foto: Pexels
17 de novembro de 2020 | Carolina Silva
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Fundou o Instituto da Medicina da Eternidade no Dubai. Como surgiu esta ideia?
Comecei o Instituto em 2002 com o objetivo de ter uma medicina mais proativa do que reativa. Acredito que estamos num momento de viragem em que, por causa da Internet e da oferta que esta proporciona, muito do que é o cuidado médico será entregue diretamente em casa…

Em que sentido?
Não sei se será assim em Portugal, mas já trabalhei em diversos países e vejo um pouco por todo o lado que há uma crescente falta de confiança nos médicos. Repare: muitas vezes o paciente já sabe mais do que o próprio médico e muitos médicos não leem mais do que quatro horas por mês. Quando eu nasci, em 1950, estimava-se que o conhecimento médico duplicasse no espaço de 50 anos. Em 2020 prevê-se que o conhecimento médico duplique em apenas 73 dias. Se pensarmos sobre isto, não há maneira de acompanhar esta explosão de dados médicos. Por isso parece-me que a resposta está na prevenção. Há uma de entre oito causas para as doenças, mas tendemos a complicar mais do que devemos. Por exemplo, já deve ter consultado um ou dois dermatologistas, ao longo dos anos, por causa de uma alergia ou de uma reação cutânea e a resposta imediata é quase sempre a mesma – receitam cortisona ou antibióticos. Provavelmente já tomou ambos. Mas a base de muitos problemas cutâneos não está na pele. Tem início nos intestinos e a menos que se vá à raiz do problema, este nunca será resolvido. Se tiver a diabetes tipo 2, por exemplo, os médicos irão dar-lhe medicamentos para o resto da vida, justificando que não há muito que se possa fazer. Não é verdade. A maioria da diabetes tipo 2 pode ser revertida em semanas ou meses, mas não através das recomendações da American Heart Association ou da American Diabetes Association. Uma simples dieta cetogénica [extremamente pobre em hidratos de carbono e rica em gorduras] conjugada com jejum intermitente tem sido testada em centenas de pacientes com resultados extraordinários. Não é a abordagem típica do endocrinologista do seu centro de saúde que considera a insulina a melhor resposta. Há provas publicadas em vários jornais médicos e um deles revela como é possível reduzir 22 dos 26 fatores de risco cardíaco. E se pensarmos que 80% das doenças estão relacionadas com a resistência à insulina…

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Essa lista inclui os países em desenvolvimento?
Sim. Refiro-me a nível global. Trato pacientes na Nigéria e na África do Sul, no Médio Oriente, na Arábia Saudita, na Índia, no Paquistão e nos Estados Unidos, e é o mesmo. Cinquenta por cento dos americanos têm diabetes ou pré-diabetes. Uma em cada duas crianças que nasça, hoje, terá diabetes. Aliás, segundo um estudo publicado no New England Journal, se nada mudar as crianças que nasceram após 2005 terão uma esperança média de vida inferior à dos pais. É a primeira vez na história da Humanidade que isto acontece, pois todas as gerações tendem a viver mais do que a geração anterior. As pessoas estão a ingerir, em média, 68 quilos de açúcar por ano. Encontramos registos que revelaram que, na Londres de 1700, a ingestão média era de dois quilos de açúcar. É uma substância extremamente tóxica.


Como se justificam, então, as diferenças de fisionomia em diferentes culturas?
Não existem muitas. São todos gordos! Repare: há 200 anos, na Índia, não existiam pizzas, hambúrgueres, fast food… Não existiam pesticidas, as pessoas andavam muito a pé e comiam o que cultivavam. Não se deixem enganar pela falsa magreza. Há muitas pessoas que fisicamente são magras, mas que têm um elevado risco de diabetes. Nos Estados Unidos chamamos-lhes TOFI (Thin Outside, Fat Inside).

Como é que este problema começou?
Em 1977, Ancel Keys abordou a Hipótese Dieta-Coração em que referia que o colesterol e a gordura saturada matavam. Três anos mais tarde, sem bases científicas, o governo americano recomendava que os americanos ingerissem mais carboidratos (aumentando o consumo de 45% para 55%) e reduzissem o consumo de gorduras (de 40% para 30%). Foi o início desta dieta de obesidade que consome o mundo e que é hoje a maior pandemia existente. Metade da população mundial está gorda, diabética e doente. E é esta pandemia que está na base de estarmos a envelhecer mal. O açúcar está na base das amputações, da impotência sexual, de doenças como a de Alzheimer… Mas não é uma sentença de morte.

O que é que pode ser feito?
A dieta cetogénica é composta por 70% de gorduras saudáveis, 20% de proteína e 10% de hidratos de carbono que é o oposto do que fazem os americanos e do que recomendavam os dietistas. Era o país dos cuidados de saúde e conseguiu matar mais pessoas com a dieta do que qualquer guerra.

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As muitas teorias e contrateorias da conspiração que envolvem a indústria alimentar confundem os pacientes. A comunidade médica sente o mesmo?
Posso dar-lhe o exemplo que dei na minha conferência sobre a mulher, que foi a editora do New England Journal [um dos mais conceituados jornais da classe médica] durante 20 anos. Disse-me: "Após 20 anos afirmo que não se pode acreditar em grande parte da pesquisa científica publicada." Escreveu um livro sobre a corrupção entre a indústria farmacêutica e a classe médica. É um grande negócio e, por isso, sou a favor de democratizar os cuidados de saúde e de levar a informação diretamente aos millennials. Informem-se, pesquisem, procurem e não acreditem em tudo o que vos dizem. Confirmem a medicação que estão a tomar, pois grande parte é tóxica para o fígado.

Que medidas podem ser colocadas em prática no dia a dia?
Largar os hidratos de carbono, cozinhar apenas com manteiga clarificada, óleo de coco e gorduras proveniente das abelhas. Evitar óleo de canola e de girassol. O azeite não deve ser aquecido, pois deve ser utilizado frio nas saladas com um pouco de vinagre ou de limão. Uma dieta cetogénica equilibrada é a base para uma vida mais saudável.

Qual é a percentagem da influência da genética?
Obviamente que a genética tem um papel importante na saúde, mas a influência da genética é entre 10% a 15% e os restantes 85% têm a ver com aquilo que nós fazemos no quotidiano. Tem a ver com o estilo de vida. Por isso, sim, ainda integramos os genomas na equação e podemos descobrir que certas doenças podem ser herdadas. Mas eu costumo dizer que os genes carregam a arma e que o estilo de vida é que prime o gatilho.

O que justifica que pessoas com um estilo de vida exemplar tenham doenças como o cancro?
É um infortúnio! Infelizmente acontece. Repare: o cancro provém de dois tipos de células, de mudanças genómicas que podem ser herdadas, como, por exemplo, os genes BRCA, que levaram a Angelina Jolie a remover os seios, mas representam apenas 5% dos cancros. A maioria das doenças cancerígenas tem origem nas mutações somáticas. Há azares, mas se se for gordo as probabilidades de se ter cancro aumentam em dez vezes. Porque o açúcar é o maior responsável pelo cancro. Sabemo-lo desde os anos 30. Por isso é que a dieta cetogénica está a ser adotada. A cetogénese mata as células cancerígenas à fome e, por isso, é muito fácil de combater com fitonutrientes e quimioterapia de baixa dosagem. Há muitos médicos a fazer progressos neste campo e com resultados fantásticos. O cancro é reversível. E os avanços são tão extraordinários que posso afirmar que, hoje, se se chegar aos 50 anos livre de doenças crónicas poderá viver-se até aos 100 anos.

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Acredita que será possível vivermos saudáveis durante mais tempo?
Sim, sem dúvida. À medida que envelhecemos temos mais células senescentes e o que acontece é que estas células não morrem. Envelhecem e tornam-se tóxicas para as outras células provocando inflamação. Já se está a trabalhar em medicação que faz uma "limpeza", basicamente levando a uma autofagia, processo em que as células se autodestroem.

Qual é a sua opinião sobre o jejum intermitente?
Sou um grande fã desta prática e conheço muitos médicos que a aplicam no dia a dia com excelentes resultados. Combinando uma dieta cetogénica com o jejum intermitente, os resultados são extraordinários. Se pensarmos bem, nos anos 60, por exemplo, as pessoas só comiam três refeições por dia: pequeno-almoço, almoço e jantar. Depois, as grandes cadeias alimentares introduziram os snacks e o mundo passou a comer com mais frequência durante o dia. Se estamos sempre a comer, os níveis de insulina não têm hipótese de baixar e, por isso, ficamos mais propensos a ter diabetes. No jejum intermitente, o corpo tem tempo para mudar de modo a queimar gordura e a queimar açúcar.

Qual é a sua opinião sobre a suplementação?
Chegando a uma determinada idade, os homens e as mulheres precisam de um boost hormonal. A nutrição é importante, mas é preciso ter em conta os níveis de estrogénio e de testosterona e se há necessidade de repor os níveis hormonais, especialmente após a menopausa.

Há quanto tempo é que põe em prática esta dieta na sua vida?
Há algum tempo. Eu gostaria de respeitar sempre a dieta cetogénica, mas posso dar-lhe um exemplo melhor do que o meu. Trata-se de um grande amigo que é Mr. Universo e tem 74 anos. Está em ótima forma física!

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