Ed Skrein é o símbolo da masculinidade moderna interpretada por Carolina Herrera. O seu passado rebelde e o seu futuro promissor foram elementos-chave para esta escolha mantida no segredo dos Deuses durante meses e revelada, com a elegância surpreendente característica dos lançamentos de perfumaria daquela marca, sob alçada do lema "It’s good to be bad". Entre o Hotel Bless, o Museu do Prado e uma impressionante mansão nos arredores de Madrid, desenrolou-se uma viagem pelo novo universo masculino de Carolina Herrera, onde (quase) tudo é permitido. O lançamento de Bad Boy foi o mote para uma das festas mais faladas do ano e Ed Skrein foi o anfitrião perfeito de uma noite inesquecível.
O ponto de partida
Bad Boy é um fougère amadeirado que equilibra a luminosidade da salva e da pimenta com a escuridão da tonka e do cacau na interpretação olfativa da dupla de perfumistas Luise Turner e Quentin Bisch sobre o conceito de que "é bom ser mau". Foi este o ponto de partida para uma fragrância que começou a ser construída em 2016. Carolina Herrera de Baéz admitiu que Good Girl havia sido pensada com um parceiro, pelo que não tardaria a chegar à família este elemento masculino. O processo desenvolveu-se em três anos, passando por inúmeras provas de aromas e testes de embalagem: "Tivemos carros, motas... E finalmente optamos pelo raio pelo seu simbolismo e espero que caiam muitos raios para que este perfume seja a mesma explosão de sucesso que tem sido o Good Girl." Carolina fala com o entusiasmo e com a segurança de quem não conhece projetos mal-sucedidos. Herdou da mãe (a designer de moda Carolina Herrera) a capacidade de sintetizar o essencial com poucas palavras e o talento para criar conceitos que não sacrificam a elegância pela inovação. E o timing certo. Encontrar o homem que personificasse todo este conceito também não foi imediato, mas Carolina sabia o que pretendia: "Eu sabia que tinha de ficar bem com Karlie [Kloss, a embaixadora de Good Girl] e que teria de ser um ator, pois teria mais versatilidade e atitude. Mas, acima de tudo, eu procurava um homem que representasse este novo tipo de masculinidade. É a ideia de um tipo mau – não no sentido criminoso, atenção! – mas sensível e, ao mesmo tempo, um homem que parece demasiado cool, mas que se revela a pessoa mais simpática e acessível... Como o Ed. É um homem que não tem vergonha de chorar." O nome de Ed Skrein manteve-se em segredo durante meses, mas no final de outubro Carolina Herrera apresentava o seu Bad Boy ao mundo. Ed é a representação perfeita da dualidade de Bad Boy e admite que esse papel significa abraçar a sua dualidade: "Tem tudo a ver com o nosso poder e com as nossas emoções. Hoje em dia, os homens podem ir a uma sessão de artes marciais de duas horas onde a agressão é permanente e no final abraçam-se com respeito e regressam a casa para cozinhar o jantar e abraçar os seus filhos. Somos seres humanos tridimensionais."
A festa do ano
Como exímios anfitriões, Ed Skrein e Karlie Kloss representaram a Casa Herrera para receber amigos de todo o mundo durante a apresentação do novo perfume em Madrid. Durante dois dias de imersão total no universo Carolina Herrera, o constante efeito surpresa não sacrificou a elegância de cada evento. Começou com uma visita exclusiva noturna ao Museu do Prado, num curto percurso pela obra do disruptivo Goya, o artista espanhol e rebelde pouco convencional que desafiou as normas da sua época. Um Bad Boy do seu tempo. Entre arte e música, o jantar decorreu numa das salas ladeadas por esculturas gregas e com um céu interativo reproduzido no teto. Ed revela-se como Carolina o descrevera, sociável e acessível, um apaixonado pelas artes com um passado de rebeldia que mudou de rumo e desenhou o seu próprio destino na representação. É o centro das atenções quando ocupa a pista de dança, no dia seguinte, numa mansão nos arredores de Madrid, onde cada pormenor era um indicador do conceito Bad Boy, com cada recanto a esconder uma surpresa. Onde o "good to be bad" ganhou formas próprias e espontâneas pela noite dentro.
As confissoes de Ed Skrein
Começou a sua carreira como um artista de hip-hop no Reino Unido. Como é que isso aconteceu?
Quando eu era adolescente, estava a emergir uma cena de hip-hop muito pequena na minha escola. Fui para a Escola de Artes estudar e durante esse período aderi a um coletivo underground. No entanto, o meu instinto dizia-me que eu deveria pintar depois: este não era o momento para fazê-lo. Eu não pretendia ser um artista famoso, não queria expor em galerias, apenas queria deixar a minha marca, por isso dediquei-me à música quando estava apaixonado por ela enquanto meio de expressão.
O que retirou desse seu período mais underground?
Eu aprendi a importância e os benefícios do trabalho de equipa e da colaboração, e que podemos fazer parte de uma tribo enquanto estamos à procura da nossa própria individualidade. Foram tempos muito entusiasmantes! Éramos músicos jovens muito românticos e orgulhavamo-nos do nosso estatuto underground. Isto passou-se antes das artes digitais, tinha tudo a ver com lojas de discos de vinil, promoções feitas com cassetes de misturas e CD... Havia um sentimento muito orgânico e otimista.
O seu primeiro trabalho como realizador, a curta Little River Run, foca os temas dos estereótipos raciais, dos jovens e da falta de empatia que existe por eles. Porquê a escolha destes temas?
Eu tive um início muito apaixonado a contar histórias e sempre senti uma responsabilidade em narrá-las com empatia e com o coração. Sou comprometido em dar uma voz aos que não a têm.
A masculinidade também tem sido estereotipada: quais são os lugares-comuns que ainda persistem em torno da masculinidade?
Vivemos numa era em que tudo é colocado numa "caixa" de um extremo ou do outro, mas, na verdade, somos todos "cinzentos", pois há luz e escuridão em todos nós, bom e mau. E para nos otimizarmos ao máximo, precisamos de explorar ambos estes lados com honestidade e celebrá-los com alegria.
Falamos de um novo tipo de masculinidade?
Tradicionalmente, fomos ensinados que a expressão emocional não era o que um verdadeiro homem fazia. Fomos ensinados a ser lobos solitários, a não chorar ou a mostrar medo, que devemos combater as agressões em vez de usar a empatia. Isto é falso. São perceções datadas que devemos mudar.
Com este conceito em mente, que tipo de homens o inspiram?
Jean-Michel Basquiat com a sua rebeldia, a sua abordagem expressiva e sacra às artes é fascinante. Era um rebelde de alma, mas explorou temas sociais importantes com certeira sensibilidade. Tupac Shakur era um homem com uma dualidade incrível: escreveu uma das músicas mais sensíveis de todos os tempos, Dear Mama, uma carta de perdão para a mãe, mas também escreveu Hit’em up, um ataque agressivo a Biggie Smalls, igualmente emotiva. Cresci com uma paixão pelo hip-hop e fui educado com este tipo de música, o que significa que estava rodeado de bad boys. Mas é sempre uma inspiração. Enquanto filmávamos esta campanha ouvimos Tupac, Tribe Called Quest e Wu-Tang.
Tem trabalhado com jovens em risco de exclusão social na companhia de teatro The Big House. Pode falar-nos desta iniciativa?
The Big House é um projeto baseado na parte leste de Londres que trabalha com jovens em processo de saída das casas de acolhimento e que têm um elevado risco de exclusão social. Esta plataforma utiliza o teatro como uma ferramenta terapêutica para inspirar e facilitar o crescimento pessoal. Eu sou mentor de vários estudantes desta companhia e é muito enriquecedor contribuir para uma comunidade que me deu tanto. Sou um londrino orgulhoso e retiro tanto desta experiência quanto o que aplico.
Considera que a representação da diversidade étnica está a melhorar?
Certamente que sim. O sucesso de filmes como Black Panther, Moonlight, Roma e If Beale Street Could Talk, no qual eu tenho muito orgulho em participar, são sinal disso.
Escreveu uma curta-metragem sobre duas pessoas que comunicam de todas as formas, exceto através de palavras. Planeia filmá-lo, em breve?
Eu tenho dois guiões que não largo, neste momento. Um é sobre uma história muito pessoal baseada na história da minha familia. E o outro é sobre uma sociedade distópica e que envolve ficção científica ao estilo Blade Runner, cheia de energia, que se passa no leste de Londres. Pretendo explorar e levar ambas o mais longe possível, com o objetivo de realizá-las. Até podem nunca ver a luz do dia, ou podem ser a próxima realização minha, quem sabe! Eu gosto muito de desafios e faço tudo com grandes expectativas, com muito otimismo, mas também com muito realismo.
Interpreta papéis muito físicos. É muito cuidadoso com o seu regime alimentar?
Eu gosto de comer de forma saudável. Tudo o que entra nos nossos corpos tem um efeito em todo o nosso organismo: seja no cérebro, nas funções neurológicas e, claro, na aparência física. Eu como muitas frutas orgânicas, legumes e carnes provenientes de produtores seguros e bebo muita água.
E pratica artes marciais. Pode falar-nos um pouco sobre esta sua paixão?
É uma experiência muito humilde e conectiva com outros seres humanos. Treinamos juntos, suamos, atacamo-nos com respeito e no final abraçamo-nos. É catártico. Todos os homens deveriam experimentar as artes marciais. Seríamos mais pacíficos. Na verdade, as pessoas mais fortes e perigosas que eu conheci são também as mais pacíficas.
Como é que a paternidade mudou a sua abordagem sobre a vida?
Ser pai tem mudado muito em mim e para melhor. Tornou-me mais sensível, estimula a minha empatia pelos outros, o altruísmo e assim que eu tive o meu filho comecei a chorar mais! Tornei-me mais focado. Fez-me compreender o que é verdadeiramente importante. A arte estimula-me e a minha família completa-me.