O ator brasileiro Wagner Moura pensou que Pedro Hossi poderia ser bom para o papel do Xanana Gusmão, ex-Presidente da República Democrática de Timor-Leste. Foi assim que Hossi recebeu por e-mail um pedido da diretora de casting da série Narcos (2015). "O e-mail fazia uma menção ao nome do Wagner, que eu tinha conhecido há uns anos atrás, através do Lázaro Ramos", contou à MUST Pedro, acrescentando que os atores se tinham cruzado algumas poucas vezes desde então.
O pedido era um teste para o filme Sergio, de Greg Barker, que seria protagonizado por Moura, alguém com quem Pedro já ansiava trabalhar. "É uma grande ator, um dos melhores da minha geração", elogia. "As cenas que me chegaram para fazer no casting eram extremamente bem escritas, isso foi algo evidente", relembra. O argumento do novo filme da Netflix Sergio foi escrito por Craig Borten, nomeado para um Óscar em 2014 na categoria de Melhor Argumento Original por O Clube de Dallas (2013). Pedro conseguiu o papel.
"Esta é a minha interpretação de Xanana Gusmão. Eu sei que, por vezes, as pessoas procuram uma identificação quase total entre o ator e, neste caso, personagens históricas, que existiram. Não será nunca uma coisa idêntica, mas eu tive a preocupação de o ouvir e ver vídeos ", explica o ator que também buscou perceber o contexto histórico daquele primeiro encontro entre Gusmão e Sergio Vieira de Mello, diplomata sénior da Organização das Nações Unidas, que chega a Timor num governo de transição, liderado pela própria ONU.
Historicamente, Xanana Gusmão não foi muito recetivo às Nações Unidas portanto este encontro com o diplomata é "muito tenso", diz Pedro Hossi. No filme, foi gravada uma cena grande, "que eu acho que ficou muito boa", lembra. O segmento Timor-Leste foi todo filmado na Tailândia, mas o filme também tem cenas no Rio de Janeiro, na Jordânia e, claro, algumas cenas em estúdio — reproduções do Iraque, onde Vieira de Mello perdeu a vida, a 19 de agosto de 2003, em Bagdade.
A história de vida do diplomata brasileiro foi um dos motivos que fez Pedro querer envolver-se na produção. "Estes homens são intemporais, não é? O mundo precisa sempre de homens como Sérgio Vieira de Mello". Carismático, Sérgio passou a maior parte da sua carreira como diplomata sénior da ONU nas regiões mais instáveis do mundo. Inspirado numa história real, o filme retrata como ele, habilidoso, conseguia fechar acordos com presidentes, revolucionários e criminosos de guerra para tentar proteger a vida das pessoas comuns. O brasileiro passou a vida a dedicar-se aos outros e, justamente quando se preparava para viver uma vida mais simples, com a mulher que amava, Carolina Larriera — na produção interpretada por Ana de Armas —, Sergio assume sua última missão em Bagdade, recém-mergulhada no caos após a invasão norte-americana. "Eu acho que eu era a única pessoa no planeta que não sabia quem era a Ana de Armas", ri-se Pedro Hossi. "De repente percebi que ela é uma superestrela mundial e uma joia de pessoa, com um sentido de humor incrível. Os grandes normalmente são, não é?", conta.
"Para todos os envolvidos no audiovisual, o surgimento do streaming é maravilhoso, porque significa mais oportunidades de trabalho", afirma Hossi, ao partilhar que a produção do filme em nada se diferenciou de uma produção para cinemas tradicional. "Eu acho que é o futuro. Eu não quero prever o fim da televisão, não faço futurologia, mas acho que muita coisa vai mudar em termos de conteúdo para televisão", reforça, acrescentando que acredita que o hábito de consumir notícias irá se manter na TV, mas que a ficção vai mudar. "A qualidade vai ter que aumentar, porque há tanta oferta hoje no streaming."
Sergio estreia a 17 de abril, na Netflix Portugal.