Quem conta um conto, acrescenta um ponto. São assim que nascem, também, as teorias da conspiração? Em que se fundamentam?
Na sua maioria, as histórias que fazem parte deste livro preenchem o imaginário de muitas pessoas e de certa forma condicionam a forma como elas se relacionam com a própria sociedade. Perceber como surgem e sobretudo porquê, torna-se mais complicado. Para muitos dos sociólogos que têm estudado este fenómeno, as «teorias» resultam da tentativa de responder a hiatos de comunicação. Eu diria, que mais do que colmatar essas lacunas, as teorias da conspiração visam sobretudo dar resposta ou atribuir um significado aos nossos medos, aos nossos anseios. Mas uma coisa é criar uma conspiração, outra, é apoiá-la e consequentemente promovê-la. A minha explicação pessoal baseia-se em algo que pode ser denominado como «fenómeno Big Brother». O que este fenómeno está a colocar em evidência, é a necessidade de se fazer parte de algo que fuja ao mainstream. É mais fácil ser-se notado num pequeno grupo que é do «contra», do que no seio da imensa maioria que entende que as coisas, "são como são". Eventualmente, haverá alguma dose de razão em ambas as barricadas. Na verdade, ninguém, nem a própria ciência, poderá dizer que tudo aquilo que sabemos, são verdades absolutas.
Galileu em 1663 foi condenado pela inquisição por defender causas contrárias (o heliocentrismo) ao que era assumido na altura pela igreja católica. Mas convenhamos que em pleno século XXI, se torna um pouco absurdo por exemplo, defender que a Terra é plana.
No entanto, existe muita gente por esse Mundo fora que defende com unhas e dentes esta teoria. Não só esta, como aquela que defende que andam a matar os pássaros e a substituí-los por drones, que têm como finalidade espiar o cidadão comum. É por isso que por vezes os vemos a descansar nos cabos elétricos; estão a carregar baterias!
O que o levou a pegar neste tema? Interessava-lhe por alguma razão em particular?
Este livro é o corolário do programa da Antena 1 «Teorias da Conspiração». Um podcast que foi publicado nas plataformas digitais (RTP Play, Spotify e iTunes por exemplo) e que foi composto por 120 episódios. Cento e vinte histórias que nos fazem pensar onde reside a verdade das coisas.
Não nego que os primeiros 5 minutos do primeiro episódio da última temporada da série "Ficheiros Secretos", contribuiu em muito para que este tema começasse a fazer parte do meu dia-a-dia.
Como será possível ficar indiferente a histórias como a dos «Protocolos dos Sábios de Sião» que estiveram na origem do «Holocausto Nazi»? Como é possível passar ao lado de temas tão atuais como seja a origem da QAnon ou mesmo do caso Pizzagate? Foi esta inquietação que me levou a investigar e a produzir os cento e vinte episódios do programa. Como dizia José Mário Branco: "Cá dentro inquietação, inquietação."
Qual foi o processo de pesquisa a que recorreu para escrever este livro?
Normalmente, o processo iniciava-se com o visionamento de uma entrevista, na qual o protagonista ou entrevistado, defende uma determinada posição/teoria. A partir daí, procurava cruzar as diversas fontes, confirmar datas e locais e perceber se de facto a "história" era partilhada por muita gente ou, por outro lado, não passava de uma boa conspiração unipessoal! Obviamente que há muitas teorias, diria mesmo a maioria, que são muito populares e reconhecidas nos 4 cantos do Mundo, pelo que seria difícil, se não mesmo impossível fugir a elas.
Tem alguma teoria da conspiração favorita? Se sim, porque?
É difícil escolher uma, mas penso que dada a sua originalidade, a história que envolve o neozelandês Gregory Hallet intitulada "O Rei Escondido". Gregory reclama ser o verdadeiro herdeiro do trono de Inglaterra, afirma ter documentos que comprovam a sua pretensão. A sua história é um misto de ficção científica com laivos de sobrenatural, mas a determinada altura refere uma passagem por Portugal, mais propriamente o Algarve, local onde viveu abrigado numa gruta perto do Carvoeiro, durante 3 meses. Antes de regressar a Inglaterra, ainda passou por Alte, uma localidade situada no concelho de Loulé. Foi aí que lhe foi explicado (por uma entidade divina) o maior segredo da igreja católica e que permanece escondido até aos dias de hoje; Jesus Cristo não era apenas uma pessoa. Eram dois primos (com o mesmo nome) viveram em Alte e foi lá que escreveram o Livro do Apocalipse!
Qual é mais gritante, no sentido de estapafúrdia?
Entre a teoria de que andam a matar os pássaros e a substituí-los por drones, para a "Nova Ordem Mundial" nos poder espiar, e a teoria de que a cantora Katy Perry é na verdade JonBenét Ramsey, uma jovem americana que apareceu morta no dia 26 de dezembro de 1996. Eu seria levado a escolher os "Illuminati", apenas e só porque de facto eles não existem, apesar de muita gente continuar a apostar que sim. Vale a pena ler (e ouvir) esta teoria, mais que não seja para se perceber que o mito desta suposta sociedade secreta renasceu das cinzas nos anos 60 do século XX nas páginas da revista Playboy, depois de ter sido aniquilada no século XVIII.
No entanto e apesar de tudo a minha opção recai e talvez devido à sua atualidade, nas várias teorias que se formaram em torno da pandemia, da COVID 19. Independentemente da forma como surgiram algumas das histórias mais rocambolescas e mesmo inacreditáveis, o facto é que muita gente entendeu que deveria acreditar nessas versões alternativas em detrimento da versão científica. À medida que a situação pandémica alastrava por todo o Mundo, começaram a surgir os chamados negacionistas. Cidadãos que entenderam ser mais fácil negar essa mesma ciência e «comprar» as histórias alternativas que o «Dr. Google» fazia questão em nos presentear a toda a hora.
O que lhe têm dito sobre o livro? As pessoas continuam a surpreender-se com o tema?
Regra geral as opiniões são bastante positivas. O facto de se tratarem de histórias relativamente pequenas e divididas em capítulos, faz com que seja um bom companheiro de viagem, pois conseguem-se ler vários desses capítulos sem se perder o ritmo de leitura. Uma das críticas mais positivas que me têm referido é o fato de ter conseguido reunir numa única obra as principais teorias da conspiração que circulam pelo Mundo, não esquecendo Portugal.
Qual foi a parte deste processo – escrever o livro – que lhe deu mais prazer?
O livro, como já referi anteriormente, reflete o trabalho que foi feito na Antena 1. No entanto, é muito diferente escrever para rádio do que escrever para quem lê. Nesse sentido, houve a necessidade de reescrever todos os textos, adaptá-los a outro ritmo de leitura e posteriormente ordená-los em grandes capítulos, ou gavetas por assim dizer. Foi um trabalho árduo que implicou muitas revisões e muitos meses, pelo que provavelmente a parte que mais prazer me deu, foi escrever os agradecimentos finais.