Conversas

Anthony Carrigan: “É difícil viver com um segredo de que não gostas”

O ator sentou-se com a MUST e partilhou desde como foi crescer com alopecia até onde estava e como se sentiu ao receber a nomeação ao Emmy de Melhor Ator Secundário numa Série de Comédia com ‘Barry’.

Anthony Carrigan: “É difícil quando há uma coisa secreta de que não gostas em ti mesmo”
17 de junho de 2020 | Aline Fernandez
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A comédia de humor negro Barry somou 17 nomeações aos Emmy e apresenta Barry Berkman como um deprimido assassino profissional que, relutantemente, viaja até Los Angeles para tentar ser ator. Ao lado de Barry está NoHo Hank, um mafioso checheno implacável mas amável, que só quer ser seu amigo.

Protagonizada por Bill Hader, com Anthony Carrigan como Hank, a série da HBO Portugal — a emissora já anunciou a renovação para a terceira temporada — conta ainda no elenco com Stephen Root como Monroe Fuches, o ex-dealer de Barry, Sarah Goldberg como Sally Reed, uma estudante de representação por quem Barry se apaixona e Henry Winkler, que é Gene Cousineau, o professor de representação.

"Barry teve um impacto profundo na minha carreira. Só a reação positiva que as pessoas tiveram foi fenomenal. Todas estas personagens muito vibrantes tornaram-me um fã da série", conta-nos Anthony Carrigan em Lisboa. Além de Barry, poderá ver Anthony brevemente no filme Bill & Ted — Face the Music com Keanu Reeves e Alex Winter e, em 2021, em Fatherhood, com Kevin Hart. Ambos estão em pós-produção.

Onde estava quando recebeu a nomeação para os Emmy?

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Eu estava em Nova Orleães a filmar Bill & Ted, foi o meu primeiro dia de trabalho. Eu não estava a esperar nomeação alguma, eu pensava que seria um tiro no escuro, então nem acompanhei. Aí recebi um SMS do Bill Hader a dizer: "Parabéns, rapaz!" e respondi: "A série foi nomeada?" e ele: "Não, tu foste." E eu fiquei a olhar espantado para o chão durante uns cinco minutos. Depois fui ao set e conheci o realizador [Dean Parisot], que me perguntou se eu queria conhecer o Alex Winter e o Keanu Reeves e eu disse: "Claro!" E o Keanu foi dos primeiros a dizer: "Parabéns pela nomeação ao Emmy, isto é ótimo, muito fixe!" O Keanu Reeves deu-me os parabéns e eu fiquei: "OK, agora eu fui nomeado." [ risos]

Como se inspirou para a personagem de NoHo Hank?

Ele é definitivamente diferente de mim. Há uma parte jovem que é minha, aquele miúdo de 8 anos que quer ser amigo de toda a gente. Eu passei, de facto, muito tempo a construir esta personagem, a senti-lo e a escrever umas histórias de base, a encontrar a sua fisicalidade, o guarda-roupa e as tatuagens. Quando arranjas tudo isto, torna-se muito mais fácil interpretar a personagem.

Foto: Aaron Epstein/HBO
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A sua mulher é jogadora profissional de xadrez. E a sua personagem tem tatuagens de peões de xadrez. Qual é o seu significado?

Eu escolhi todas elas e todos elas têm significado. Às vezes, o que é útil em termos de atuação é escolher um animal que possa exemplificar a personagem. Com Hank, pensei num escorpião, porque os escorpiões são realmente difíceis de matar, como Hank no primeiro episódio, em que é baleado e não morre.

A série retrata vários assassínios contratados e há cenas com muitas armas. Como fazê-lo sem promover a violência?

O que é ótimo em Barry é que não glorifica a violência, na verdade a violência que é retratada é quase desagradável de se ver. É muito real e não é fixe. É feia. Nos filmes às vezes parece que a violência compensa: o bom mata o mau e toda a gente se sente bem depois. Em Barry, quando ele mata alguém é estranho e acho que isto é feito de propósito.

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Como é trabalhar com Bill Hader o ator e Bill Hader, o argumentista, produtor executivo e realizador?

Bill é tão descontraído que realmente não se diz que ele assume todas essas funções. Ele fica a brincar o tempo inteiro. Bill já fez todo o trabalho, ele já escreveu os guiões, quando começou a realizar já tinha tudo tratado e quando atua está totalmente disponível para passar o tempo a conversar. Ele não é daqueles atores que fica na personagem o todo tempo. Ele é um tipo brutal com quem se trabalhar.

Sente diferença em trabalhar no cinema e na televisão?

É engraçado, porque hoje a televisão é muito similar ao trabalho em cinema. A televisão nos anos 1970 e 1980 era muito má, não havia grandes séries, mas agora já não. O valor das produções é alto, portanto é muito parecido.

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Foto: 20th Century FOX

Já interpretou muitos vilões, gostaria de assumir um papel de bonzinho?

Não, nunca [risos]. Não, claro, eu adoraria. Eu estou aberto a tudo. De facto, eu sou um tipo fixe, eu não sou um psicopata [risos].

É muito aberto em relação à alopecia. Já disse que foi a pior e, ao mesmo tempo, a melhor coisa que lhe aconteceu.

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Eu cresci com alopecia [doença autoimune que provoca queda de cabelo]. Fui diagnosticado com 3 anos e perdia mechas de cabelo. Eu sempre fui provocado por isso, sempre foi uma fonte de verdadeira vergonha para mim e eu estava realmente preocupado com o facto de as pessoas virem a descobrir. Muitas pessoas têm algo físico sobre elas mesmas que preferem que os outros não conheçam e é realmente difícil viver dessa maneira, é difícil ter algo secreto que tu não gostas em ti mesmo. Aquilo que eu tinha pavor que acontecesse, que era perder todo o meu cabelo aconteceu — e passei por um período realmente desconfortável por não me aceitar. Mas acabou por ser o melhor remédio para mim. Por mais assustador que fosse na minha mente, descobres que as outras pessoas também o aceitam. E sim, também tem sido ótimo para a minha carreira, então tudo bem.

Foto: Chris Haston/NBC Universal

Trabalha na indústria do cinema e da televisão desde 2008 e vejo que publica muitas imagens de apoio às mulheres no Instagram. Acredita que esse apoio continua a ser muito necessário? Já presenciou alguma situação com a qual não concordou?

100%. Vou me manter nesta indústria porque o mundo inteiro é essencialmente muito desigual em termos de favorecer os homens em detrimento das mulheres, pagando mais aos homens do que às mulheres. É totalmente desigual e não há escassez de injustiças em todos os lugares. Sim, eu vi realizadores a tratar as mulheres de maneira diferente do que tratam os homens no set. Houve uma cena em que uma amiga minha trouxe uma nota sobre alguma coisa e o realizador a desconsiderou completamente e, em seguida, um ator fez o mesmo ele aí já estava interessado. Eu senti-me obrigado a dizer: "na verdade, eu gosto do que ela disse, acho que é isso que devemos fazer." Acho importante apoiar as mulheres, apoiar as vozes das mulheres e garantir que elas não são abafadas. E também examinar as maneiras pelas quais o sistema tem falhas profundas, porque eu acho que isso é importante. Muitas pessoas simplesmente ignoram o sistema em que vivem.

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