Chris Hemsworth acabou de sair da sua arca congeladora. Os banhos de gelo em casa, ao estilo "faça você mesmo", fazem parte da sua rotina matinal. "É frequente levantar-me e estar bastante tenso e dorido. Assim, para descontrair os músculos, faço sauna e em seguida tomo um banho de gelo para me dar uma injeção de adrenalina", diz, explicando de que forma é que Thor [a sua personagem do universo cinematográfico da Marvel] desanuvia. "Tenho um temporizador, por isso não congelo. É intenso, mas muito meditativo".
Hemsworth, com 37 anos, está a preparar-se para as filmagens de Thor: Love and Thunder [Thor: Amor e Trovão], aposta da Marvel com estreia marcada para 2022, e a sua personagem fez dele um semideus cinematográfico com 47 milhões de seguidores no Instagram. Foi recentemente nomeado embaixador internacional da marca Boss, o que deu mais um impulso à sua fortuna, estimada em 130 milhões de dólares.
Criado entre Melbourne e o árido interior australiano, Hemsworth teve a sua oportunidade em 2004, depois de ter ido com o seu irmão mais velho, Luke, tentar o estrelato numa série. No seu caso, foi na série australiana Home and Away que se lançou. Em finais da década de 2000 deu o salto para Hollywood e conseguiu ficar em 2011 com o papel que veio revolucionar a sua carreira: o do deus nórdico do trovão, Thor – papel ao qual também se tinha candidatado o seu irmão mais novo, o ator Liam de The Hunger Games [Jogos da Fome].
Dez anos depois, e após três filmes Thor e quatro Avengers [Os Vingadores], Hemsworth diz que quer experimentar novos projetos; "coisas que não me sejam familiares". O seu thriller Extraction [Resgate], que se centra numa missão de resgate, foi o filme mais visto na Netflix em 2020, e Hemsworth foi recentemente anunciado como o ator que iria desempenhar o papel de Terry Bollea, conhecido como Hulk Hogan [um ícone do wrestling], no seu filme biográfico que está para sair.
Hemsworth surge sempre bem vestido, é sempre bem-educado, e a sua gargalhada é um rugido de marca que interrompe regularmente as suas duras verdades, especialmente sobre a imagem do seu corpo.
Conseguiu encontrar um equilíbrio entre a sua vida pessoal e a de celebridade, ao ir viver para Byron Bay em 2015 com a sua mulher, a modelo Elsa Pataky. Os seus três filhos – a filha India Rose, com oito anos, e os gémeos Sasha e Tristan, com sete anos – herdaram todos o seu desgrenhado cabelo louro, bem como a sua paixão pela liberdade e por passar o máximo de tempo possível no mar.
Agora, deixa-nos entrar no seu universo.
Passou o último ano em casa...
Não estava assim parado há 15 anos. A pandemia significou deixar de estar num avião a cada duas semanas para passar a estar em casa 24h horas por dia, sete dias por semana, a conjugar a vida profissional e familiar. Mas gostei muito de estar no mesmo sítio. Não ter de me despedir constantemente dos miúdos foi fantástico.
Também teve 12 meses para se preparar para o Thor
Este Thor é provavelmente o mais forte e robusto de todos os Thor que tive de desempenhar. Dispor deste tempo em casa significou explorar diferentes métodos para ver de que forma consigo manipular o meu corpo com a dose certa de exercícios de levantamento de pesos e de musculação. Durante anos terei, talvez, treinado excessivamente. Frequentemente, as pessoas que fazem musculação não se apercebem de que é um desporto que não deve ser praticado sete dias por semana, duas horas por dia. Eu andava a fazer isso nos Thor anteriores e ficava mais esgotado, com pouca energia.
É tudo uma questão de braços?
Isso é o que se vê mais. Ao trabalhar com o meu treinador, temos em conta a indumentária que vou usar e se nas filmagens aparecem muito os ombros ou se vamos ver os bíceps ou o músculo trapézio. Mas queremos que isso esteja equilibrado, porque provavelmente haverá algures uma cena em tronco nu. Não queremos que eu pareça o Popeye com uma parte do corpo exagerada.
Fez o papel de Thor durante uma década – agora está habituado ao foco na sua imagem?
Há uma estética exigida pelo papel que desempenho. A musculação é vista como uma vaidade, ao passo que se eu aparecesse com um pouco saudável peso a mais, ou se ficasse doentiamente magricelas para um papel, provavelmente seria considerado um ator sério. Treinar ao longo de 10 anos a fazer isto é um emprego a tempo inteiro. Isso e depois filmar durante 12 horas por dia – é verdadeiramente desgastante. Mas é também incrivelmente recompensador – tem de se olhar para isto como um atleta profissional.
O surf é o seu exercício preferido?
Quando era miúdo, se não estivesse com o melhor dos estados de espírito, o mar era um lugar para fazer o reset. Vivíamos a cerca de uma hora da praia e a minha mãe levava-nos de carro até lá, às quatro da manhã, para fazermos surf durante 40 minutos antes de irmos para a escola.
Quando eu e os meus irmãos ficámos mais velhos, apanhávamos boleia com jovens surfistas e as suas pranchas de surf. Tínhamos um punhado de dólares no bolso para uma torta de carne. Algumas das minhas memórias mais felizes são de quando não tinha dinheiro. Tínhamos de dormir num saco-cama, ficávamos no banco traseiro do carro de alguém, estava calor e era desconfortável mas o que nos interessava era surfar.
Como é que evoluiu o seu estilo ao longo dos anos?
O meu estilo mudou por causa das melhores influências que tive à minha volta, seja a minha mulher ou um stylist.
Alguns crimes de destaque que cometeu contra a Moda?
Olhando para trás, para os meus tempos do Home and Away, há 17 anos, usava-se muito as calças de ganga à boca de sino. Recordo-me de procurar ativamente calças à boca de sino e não calças justas. Agora rio-me ao pensar o quão convencido estava de que era isso o adequado.
Atualmente, a marca Boss é a que predomina no seu guarda-roupa?
Quando surgiu a oportunidade de trabalhar com a secção de moda da Boss, foi uma decisão muito fácil de tomar. Não há egos e isso faz com que exista uma excelente relação profissional quando se está a trabalhar em conjunto.
Quantas etapas há na sua rotina com os cuidados pessoais?
Uso a fragância Boss Bottled e em seguida coloco o hidratante que a minha mulher tiver na prateleira. Tenho de me lembrar de o fazer, porque começo a ver os danos do sol, por causa da prática do surf. E também faço sauna e em seguida tomo o banho no congelador para ter um enorme pico de endorfinas.
Hoje em dia, o que o faz aceitar um projeto?
A localização. Se for perto de onde vivo, fico muito mais interessado, do ponto de vista prático em termos familiares. [Thor: Love and Thunder foi filmado na Austrália, bem como o Extraction 2].
O que tem em vista para fazer em seguida?
Do ponto de vista artístico, sempre que sinto que já estive num determinado sítio, preciso de encontrar um ângulo único nesse patamar ou então procurar outra coisa. Quando comecei a minha carreira, sentia imensa ansiedade [em relação às audições para novos papéis]. Parte disso era prejudicial, mas obrigou-me a trabalhar mais arduamente. Certificava-me de que estava sempre preparado e que tinha feito o devido trabalho de investigação. Ensaio sempre as cenas e tenho sempre uma ideia muito bem formada sobre o guião.
Está a dizer que prospera com o medo?
Quando ficamos demasiado confortáveis, não escavamos suficientemente fundo. Gosto deste lembrete: ‘podes escorregar e cair aqui, faz algo por ti’. Acho que é uma excelente motivação, sentir essa incerteza, ter aquele pouquinho de medo a bater à porta.
Caroline Leaper/The Telegraph/Atlântico Press
Tradução: Carla Pedro